“No ano passado, o mundo mudou; e nós também. Quando reabrirmos, serviremos um cardápio totalmente baseado em vegetais, no qual não utilizamos nenhum produto de origem animal – todo prato é feito de vegetais, tanto da terra quanto do mar, além de frutas, legumes, fungos, grãos e muito mais”. Foi assim que o celebrado chef Daniel Humm anunciou que a partir de junho, quando um dos mais famosos e premiados restaurantes do mundo, o Eleven Madison Park, reabrir no mês que vem, em Nova York, seus clientes só encontrarão no cardápio pratos veganos.
Fechado por causa da pandemia da Covid-19, como outros milhões de estabelecimentos ao redor do planeta, o restaurante novaiorquino, que possui três estrelas Michelin, dentre outroas inúmeras premiações – como, por exemplo, o 1o lugar na lista do World’s 50 Best Restaurants de 2017 -, tinha entre as estrelas do seu menu um pato assado. Vai ficar apenas como uma lembrança do passado.
“É um enorme desafio criar pratos tão satisfatórios quanto nossos clássicos, mas acreditamos que é um risco que vale a pena correr e mal podemos esperar para compartilhar o que estamos trabalhando com você”, escreveu Humm nas redes sociais do restaurante.
O chef suíço destacou que enquanto a equipe se preparava para a reabertura, uma questão ficou acima de todas as outras: “Como a alimentação e a filosofia podem refletir o que aprendemos durante um dos anos mais difíceis de nossas vidas?”, questionou.
Durante a pandemia, o time do Eleven Madison Park preparou quase 1 milhão de refeições que foram distribuídas para pessoas vulneráveis da cidade. E esse trabalho de ajuda aos que mais precisam irá continuar.
O chef revelou que, depois da reabertura, cada prato comprado no restaurante permitirá o fornecimento de outras cinco refeições para moradores da Nova York que precisem de comida. As doações serão feitas no food truck do Eleven Madison Park , operado em parceria com o projeto Rethink Food.
“É hora de redefinir o luxo como uma experiência que serve a um propósito maior e mantém uma conexão genuína com a comunidade. Estamos entusiasmados em compartilhar as possibilidades incríveis da culinária à base de plantas, ao mesmo tempo em que aprofundamos nossa conexão com nossos lares: nossa cidade e nosso planeta”, destaca Daniel Humm.
Aspargos com estragão e gergelim, marinado com sake e missô
Veganismo: crescimento global
Mais e mais pessoas no mundo estão mudando suas dietas alimentares e deixando ou reduzindo o consumo de proteínas de origem animal, sobretudo, a carne vermelha. Seja por serem contra o sofrimento dos animais ou porque querem evitar os malefícios provocados à saúde devido à ingestão excessiva desse tipo de alimentos.
Em 2019, escrevi em outra reportagem, que os restaurantes dos parques e hotéis da Disney se renderam ao veganismo também. Para atender a uma demanda cada vez maior de visitantes veganos, desde outubro, há mais de 400 opções de pratos sem a presença de carnes, laticínios, ovos ou mel em seu preparo (leia mais aqui).
Berinjela assada em várias camadas do Eleven Madison Park
Um estudo internacional, divulgado em 2015, alertou sobre como carnes processadas em excesso podem causar câncer. Na ‘lista negra’ aparecem alimentos como salsichas, linguiças, bacon, presuntos, embutidos e carnes enlatadas.
A Agência Internacional para a Pesquisa do Câncer (IARC, na sigla em inglês), órgão ligado à Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou as carnes processadas, aquelas que são resultado de um processo de transformação que utiliza sal, fermentação, aditivos químicos e defumação para realçar o sabor ou aumentar o tempo de preservação, no grupo 1 de carcinogênicos, o mesmo a que pertencem fumo, bebidas alcóolicas e poluição do ar.
O relatório ressaltava que carnes processadas podem causar câncer ao ser humano, sobretudo, o colorretal. Os especialistas destacaram que o consumo de 50 gramas de carne processada diariamente, o equivalente a duas fatias de bacon, pode aumentar o risco do desenvolvimento da doença em até 18%
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Fotos: reprodução Eleven Madison Park (pratos veganos já elaborados no passado pelo restaurante)
A Pandemia, apesar de todo mal que tem causado, fez aflorar o lado melhor das pessoas, notadamente aquelas com recursos financeiros que nem sempre se lembravam de distribuir aos mais necessitados. O chef Daniel foi um dos tocados por essa luz motivadora e bendita ao se lembrar de alimentar os vulneráveis da cidade, o que por si só já o elevaria à condição de ser humano especial. No entanto essa luz brilhou também quando se dispôs à retirada dos animais do cardápio, contribuindo para a saúde e qualidade de vida dos seus fregueses, fazendo desse ponto gastronômico um local onde pessoas lúcidas e conscientes, além de se alimentarem sem crueldade, poupando a vida de outras espécies, sejam por isso mais felizes, já que não infelicitaram nenhum ser inocente por conta de uma simples refeição.