Que tristeza. O que dizer sobre esse tipo de notícia? Apesar de já ser esperado, ainda havia uma esperança de que o grupo extremista Talibã, que tomou o controle do governo do Afeganistão em agosto, não continuasse a restringir o acesso à educação a meninas e jovens mulheres, como fez no passado. Todavia, hoje foi anunciado que, após um mês sem aulas, meninos poderão voltar às escolas do Ensino Médio a partir da semana que vem. Não houve nenhuma menção, entretanto, às estudantes do sexo feminino.
“Todos os professores e alunos do sexo masculino devem frequentar as suas instituições de ensino”, diz o comunicado divulgado pelo Ministério da Educação.
Existia uma expectativa que talvez algo mudasse já que alunas de universidades no Afeganistão ganharam permissão para assistir aulas, depois que foi colocada uma cortina separando homens e mulheres.
Mas no começo do mês, o governo talibã já tinha proibido meninas e mulheres de praticarem esportes.
Apesar de logo que chegou a Cabul, o grupo ter afirmado que iria respeitar os direitos das mulheres, pouco depois foi mencionado que somente “aqueles estabelecidos pela lei islâmica (sharia)“.
“Isso é vergonhoso e nada novo. No passado, o Talibã impôs uma proibição “temporária” à educação de meninas que durou cinco anos. Eles estão testando nossa determinação. Exigimos que os líderes lutem pelo direito das meninas afegãs de ir à escola”, escreveu a ativista paquistanesa Malala Yousafza em seu perfil hoje no Twitter.
No mês passado, a ganhadora do Nobel da Paz, que durante uma emboscada levou um tiro na cabeça de um militante do grupo porque lutava pelos direitos das meninas à educação, se pronunciou sobre a situação. “Assistimos em completo choque enquanto o Talibã assume o controle do Afeganistão. Estou profundamente preocupada com as mulheres, as minorias e os defensores dos direitos humanos. Os poderes globais, regionais e locais devem pedir um cessar-fogo imediato, fornecer ajuda humanitária urgente e proteger refugiados e civis” (leia mais aqui).
Há pouco tempo também escrevi sobre as alunas e professoras de uma escola afegã para meninas que fugiram para Ruanda, mas sonham com mudança apenas temporária.
O mundo assiste com muita tristeza o que acontece no Afeganistão. Mas as meninas e mulheres do país não podem ser esquecidas e líderes e ativistas globais precisam continuar lutando por seus direitos.
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Foto: reprodução relatório Support for Gender Equality: Lessons from the U.S. Experience in Afghanistan/USAID Photos/