É através da arte que diversos artistas têm tentando, nas últimas semanas, extravasar seus sentimentos em relação à tragédia que acontece nesse momento no Afeganistão. Angústia, dor, sofrimento, desolação e impotência se tornaram as tintas de muitos. É o caso, por exemplo, da estudante Sara Rahmani.
A jovem afegã é uma imigrante. Chegou aos Estados Unidos há quatro anos junto com a família. Aluna do curso de Engenharia Civil, encontrou na pintura seu principal hobby. E com a paleta e suas cores ela tenta lidar com suas próprias emoções ao ver o país em que nasceu e viveu grande parte de sua vida sendo tomado novamente pelo Talibã.
Poucos dias antes do grupo fundamentalista anunciar o controle do governo, na chegada a Cabul, Sara começou a desenhar numa tela o rosto de uma bela menina afegã, com olhos muito brilhantes. Mas com as notícias chegando do Afeganistão, a ideia original para o quadro foi mudando e o resultado é um retrato muito forte e sensível sobre a situação de seu povo.
“Sempre quis mostrar as melhores imagens do meu país através das minhas obras, mas hoje não sobrou nada para nós, voltamos há 20 anos. Meu querido Afeganistão, em nome do mundo, sinto muito pelo silêncio do mundo”, escreveu Sara em seu perfil no Instagram.
Usando tinta acrílica, a artista deixou a parte central da tela colorida, mas os lados revelam a realidade em preto-e-branco. Na direita, caem de um avião os afegãos que tentaram se agarrar nas aeronaves que partiram do aeroporto de Cabul. Na parte de baixo, a cena marcante do bebê que é entregue pelos pais para um militar norte-americano, que o recebe, sobre o muro, envolto em arame farpado.
No canto esquerdo do lado de baixo, Sara não deixou de mostrar as ricas tradições culturais de seu país. Uma mulher dança, com trajes típicos, nas cores da bandeira afegã, e logo ao lado dela, uma jovem escreve numa lousa.
“Este é o retrato da menina que comecei, e realmente ficou triste. Você vê o lado bom, quando ela tem um facho de luz – é tudo sobre o lado bom do meu Afeganistão antes de o Talibã assumir o controle de nosso país. Ela é uma garota feliz e tem as mãos sujas de brincar com outras crianças”, disse a estudante em entrevista à rede CNN.
“Quero que o mundo saiba que … Há pessoas inocentes que estão sendo mortas. Elas perdem mães, perdem filhos … quando isso vai acabar?”, questiona a artista.
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Imagem: reprodução Instagram Sara Rahmani
Sara conseguiu sintetizar, em uma só tela, a realidade nua e crua do seu povo porque foi pintada com sangue e lágrimas. O mundo chora com você também, irmã, estamos interligados, SOMOS UM.