Quem já viu uma revoada de colhereiros colorindo de rosa os céus pantaneiros não esquece jamais.
As asas abertas tingindo o azul, quase a admirar lá de cima esse ecossistema único. As pernas são longas, o pescoço, esguio. Mas é o bico em formato de colher que dá o nome popular à espécie, obra da natureza para tornar possível que a ave revolva o fundo dos ambientes aquáticos em busca de alimento.
O cor-de-rosa das penas tem motivo cativante. No período reprodutivo as aves ingerem mais crustáceos. Quanto mais comem mais rosadas ficam. E não é só bonito de ver. É um atestado da saúde do ambiente.
Se o colhereiro está rosa quer dizer que encontra comida farta e fácil, que a natureza se conserva, interligando todos os seres.
Quando o colhereiro voa exibindo a plumagem tingida comprova que o Pantanal pulsa. E que toda essa vida não existe sem a água. A maior planície alagável do mundo é lar de uma imensidão de espécies e de belezas.
Porém, a seca castiga o bioma. Nos últimos dois anos o Pantanal sofre com altas temperaturas e baixa umidade do ar.
De acordo com o levantamento do MapBiomas, a planície pantaneira perdeu 29% da superfície de água entre as cheias de 1988 e 2018. O bioma também deu adeus a quase 5 milhões de hectares de mata nativa levados pela agricultura e pecuária.
Quando a vegetação natural é removida, o solo fica exposto e suscetível à erosão.
Conservar as nascentes e os rios pantaneiros é o caminho para salvar esse pedaço precioso do Brasil e garantir a sobrevivência de tuiuiús, jacarés, antas, onças, vagalumes. É assegurar que colhereiros permaneçam cor-de-rosa exibindo seu voo tranquilo e seu bico de colher para muitas gerações.
Edição: Mônica Nunes
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