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Ataques a navios no Oriente Médio deixam 16 mil animais confinados em embarcação há quase um mês

Ataques a navios no Oriente Médio deixam 16 mil animais confinados em embarcação há quase um mês

transporte de animais vivos por via marítima envolve muito sofrimento e crueldade e, por isso, está na pauta de grandes organizações de proteção animal há anos. No Brasil, está proibida desde 2023 devido à mobilização incansável de ONGs.

O mais curioso é que essa atividade existe para atender países do Oriente Médio, que têm métodos específicos de abate embasados na religião: kosher para os judeus, de acordo com o Torá; e halal para os muçulmanos, segundo os princípios do Alcorão. O objetivo é “manter a conexão entre o homem e Deus”, causando o mínimo de sofrimento ao animal.

E foi para atender a esse tipo de demanda que o navio cargueiro MV Bahijah – operado pela empresa israelense Bassem Dabbah Ltd – deixou o porto de Fremantle, na Austrália, em 5 de janeiro com destino à Jordânia, levando 16 mil animais vivos (14 mil ovelhas e 2 mil bois) em uma viagem que não levaria mais do que três semanas, mas que foi alongada inesperadamente.

Após 15 dias, o Departamento Federal de Agricultura, Pesca e Engenharia Florestal do país deu ordens para que o navio retornasse a fim de evitar os ataques da milícia Houthi do Iêmen no Mar Vermelho.

Ninguém lembrou que a ameaça dos Houthis se intensificou como resposta aos ataques de Israel em Gaza? Nenhum navio pode arriscar passar por ali, mas o mesmo departamento que mandou o aviou voltar, foi o mesmo que autorizou a partida, mesmo em direção a uma zona de conflito.

Agora, a embarcação está na costa da Austrália, próxima de Fremantle, sem a tripulação, que aguarda decisão do governo australiano. E devido a esse “imprevisto”, depois de 24 dias de viagem, os animais continuam confinados no navio, onde sofrem também com altas temperaturas, o que provocou protestos de organizações de proteção animal.

“Esses animais já passaram 24 dias no mar, com potencial estresse térmico, má ventilação, permanecendo em seus próprios dejetos. Estão extremamente estressados”, destaca Rebecca Tapp, da organização Stop Live Exports (Pare Exportações Vivas, em tradução livre).

Mas por que eles não foram desembarcados na Austrália? 

Desembarcá-los ou reexportá-los?

Segundo o governo, devido a problemas de biossegurança, os animais não podem ser reintroduzidos em um rebanho australiano sem passar por quarentena, mesmo não tendo atracado em outro porto.

E mais: a empresa não descartou a possibilidade de reexportar os animais para o mesmo mercado, desta vez seguindo pela rota mais longa ao redor da África, o que levaria cerca de 35 dias. Claro! Afinal, estima-se que os animais “valem mais de dois milhões de dólares!”.

Departamento de Agricultura, Pesca e Engenharia Florestal da Austrália está analisando o pedido de reexportação do gado fornecido pelo exportador. E, hoje, 1º de fevereiro, publicou nota atualizando informações sobre o caso.

Disse que, para tomar uma decisão, está equilibrando diversas questões: “biossegurança australiana, legislação de exportação, considerações de bem-estar animal e requisitos dos nossos parceiros comerciais internacionais”. 

Também destaca que veterinários visitaram o navio e apontaram que “o gado permanece em boa saúde e não há evidências de quaisquer preocupações significativas com a saúde, o bem-estar ou o ambiente no qual se encontram”. 

Dá pra acreditar? Quais são os critérios para essa avaliação? Ainda mais levando em conta que, para seguir viagem, o exportador exigiu que os animais doentes sejam retirados do navio. Portanto, é claro que nem todos estão bem e certamente muitos podem morrer com o calor.

Cada dia enclausurados na embarcação é mais um dia de sofrimento para os animais.

Solução humana

Para a Royal Society for the Prevention of Cruelty to Animals (RSPCA), organização de promoção ao bem-estar animal, é vital que os animais sejam retirados do navio. 

“Essas ovelhas e o gado ficaram parados em seus próprios dejetos por 24 dias e provavelmente ficaram mais estressados durante esse tempo devido ao movimento do navio”, declarou a cientista-chefe da RSPCA, Dra. Suzanne Fowler, ao Correio Braziliense.

“Muitos desses navios dependem completamente do movimento da embarcação e do ziguezague no oceano para tentar obter ventilação em determinadas áreas”, completou.

Ela ainda destacou que a organização solicitou mais transparência do Departamento de Agricultura. “Esses erros e os riscos que eles criaram não devem ser usados como desculpa para impor mais sofrimento a esses animais. Eles não devem ser obrigados a suportar outra viagem”. 

E concluiu: “Uma solução humana precisa ser encontrada em solo australiano com o gerenciamento adequado dos riscos de biossegurança”.

Luta no Brasil

Há anos as organizações de proteção animal clamam por uma legislação nacional que proíba a exportação de animais vivos em navios que saiam de portos brasileiros.

Uma de suas maiores mobilizações aconteceu quando, em fevereiro de 2022, o país recebeu o navio jordaniano Mawashi Express, considerado o maior navio cargueiro do mundo para transporte de animais, que atracou no Porto da Vila do Conde, em Barcarena, no Pará, para embarcar mais de 30 mil bois

Já imaginou a dimensão dessa operação? E o sofrimento desses animais? E esta não era a primeira vez que esse navio vinha ao Brasil: ele já havia estado aqui por duas outras vezes, a última em 2017.

Mas a luta das ONGs finalmente obteve uma primeira vitória na Justiça Federal, em abril de 2023, quando, em decisão liminar, o órgão proibiu a exportação de animais vivos em portos de todo o país

Enquanto animais forem considerados como pedaços de carne, essa luta não terá fim.
___________

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Foto: Mercy for Animals

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