Um vazio na cadeira. Um corpo vazio. Uma presença partida. Uma falta quebrada. Uma fala esperada. Uma ala sem nada. A espera ausente, sem corpo presente. O estar pela metade. O estar nem aí. O cansaço que aguarda e guarda pedaços fantasmas. Quase uma asma, sumindo sem fôlego, sem fôlego…
Um suspiro e a aparente calma ressurgem em espectros. E unem. E se banham em pinceladas de carne viva. Sombras desconexas. Venha luz de onde vier. Seja lá água como for. Translúcido denso. Lucidez roubada. Sonhos esquartejados, divididos com o chão.
Rostos ao léu – em tempo de ir para o céu ou para outro véu de fel – sem saber o que fazer precisaram se fixar na primeira parede que encontraram. Para virar nada além do que luminária subalterna que alterna luz segundo vontade alheia. O único trunfo é assustar um desavisado à procura de lâmpada sem expressão. Pelo menos há expressão congelada, que não derrete nem na dor, nem no calor que desfaz geleira em tempos de mudança climática.
Desculpas aos que preferem textos mais diretos e menos poéticos… Mas é que a arte da alemã Stephanie Walter me provoca isso aí. Me fez sentar à mesa, na última saída com amigos e ficar me sentindo numa pintura. Só não olhava para cima para não dar na vista. Minto: olhei disfarçadamente para cima uma vez, uma única vez, quase vendo a artista ali, tentando adivinhar o que ela veria, que cores o humor dela veria. Ou que cores nossos humores mostrariam. Haveria muito celular, uma pena. Nas mesas de Stephanie só havia aparelhos de solidão em uma…
Prefiro esse mundo paralelo sem nenhum.
Como é bom ser transportada para lá quando olho a obra dela. A fluidez sincera com que as várias Stephanies surgem de uma hora para outra me espanta. Não quero dizer aqui que ela pareça ter vários estilos porque não é isso que sinto. Ela muda, sim, a cada série, a cada momento… Ela muda no mesmo quadro. Mas preserva essa vontade de mostrar movimento e fragmento. São sempre partes levadas pela mesma correnteza. Com firmeza, numa rima mais que justa.
Só me assusta saber que as marés trazem mais e mais peixes mortos por poluição. Experimenta dar uma busca no Google para você entender o que eu estou dizendo. A quantidade de notícias sobre isso é alarmante. Nessa roda viva, prevalecem um sem fim de substâncias venenosas que conduzem os cardumes para o negro ralo sem volta. Para um olho de furacão que arrasta e faz da luta das espécies pela vida não mais uma seleção natural ou divina.
Somos os donos do universo? Já temos que pedir passagem para as peças e os objetos que colocamos no mundo. Ficamos com cada vez menos espaço, empilhados em edifícios e confinados em congestionamentos, tentando achar um jeito, tateando saídas, inventando soluções. Procurando diversão que faça sentido, antes da volta para casa.
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