Num canto do Brasil onde desmatar virou palavra de ordem, seu Marcelino conjuga diariamente o verbo semear. Nasceu sabendo que a terra é mãe e que desmatar é se matar aos poucos.
Disposto a ser semente de novas florestas ele planta tucumã, castanheira, andiroba no meio da mata na Terra Indígena Caititu, no município de Lábrea, sul do Amazonas.
É justamente ali, no chamado Amacro, junção das siglas de Amazonas, Acre e Rondônia, que mais avança o desmatamento em todo o Brasil. Uma tristeza a olhos vistos…
Áreas imensas de florestas, terras públicas muitas vezes, são devastadas queimadas para dar lugar a pastagens ou plantações de soja, produtos da invasão, grilagem, exploração ilegal de madeira.
Na contramão da destruição seu Marcelino age. Silenciosa e incansavelmente. Veio ao mundo indígena num tempo em que nem podia ser registrado com o nome de sua etnia. Virou Francisco Jacinto na identidade, mas se apresenta a quem chegar com o que chama de nome de guerra: Marcelino Apurinã.
Sabe de cor o tempo do açaí, a hora de extrair o óleo de copaíba, o ponto de maturação do tucumã, e aprende com os amigos da Operação Amazônia Nativa, a OPAN, a ciência por trás de um saber ancestral que herdou dos pais e avós.
Planta a roça de mandioca no meio da floresta, no Sistema Agroflorestal, SAF para os entendidos, como seu Marcelino. Agora tem cacau, cupuaçu, urucum pra dar e vender. Tem pássaros a cantar no amanhecer e a tardinha, como lembra ele.
Árvores de pé, frondosas, sombreando a plantação, são fartura na mesa e na vida, herança do povo Apurinã para as futuras gerações e o mundo.
Foto: Adriano Gambarini