Não é só a Amazônia que está queimando! O Cerrado e o Pantanal também. Faz quase 20 dias que incêndios assolam o bioma pantaneiro, no Mato Grosso do Sul, e já destruíram cerca de 15 mil hectares (dado do ICV – Instituto Centro de Vida) na reserva que mais concentra onças-pintadas no mundo: o Parque Estadual Encontro das Águas.
O parque tem 108 mil hectares e está localizado no encontro dos rios Cuiabá e Piquiri, na região de Porto Jofre, entre Poconé e Barão de Melgaço, municípios a 104 e 121 km de Cuiabá. De acordo com informações do ICV, o fogo começou em 1° de outubro, em uma fazenda vizinha ao parque.
Quem lembra da tragédia de 2020, quando cerca de 90% da reserva foi engolida pelo fogo e foram registradas algumas das cenas mais chocantes e emocionantes das queimadas?
Mesmo sendo um local de difícil acesso, brigadistas, veterinários e moradores se arriscaram para salvar onças-pintadas – como o macho Ousado e a fêmea Amanaci – e outros animais bastante machucados.
Ousado voltou à natureza com colar de monitoramento: foi solto em outubro de 2020 e flagrado caçando um mês depois. Em 2021, um ano após tragédia da qual ele se tornou símbolo no Pantanal, novo registro mostrou que ele estava forte e saudável.
Já Amanaci vive em cativeiro desde então, pois perdeu o controle das garras devido às fortes queimaduras nas patas (de terceiro grau!) e não tem mais como sobreviver na mata. Em março de 2022, deu à luz a um filhote macho, o Apoena, que, em breve, se despedirá da mãe para ser treinado e introduzido no Pantanal. Vida que se renova no bioma.
Fuga e abrigo
Ontem, 19/10, o fotógrafo Erisvaldo Almeida trabalhava às margens do Rio Três Irmãos, que corta o parque, quando viu uma onça-pintada atravessar o rio para fugir do fogo (assista no final deste post).
Imediatamente foi em busca do animal com sua câmera, encontrando-o ofegante e abrigado em uma área de mata. Que sorte!
No vídeo, Erisvaldo narra o que vê e após um bom registro da onça, dirige a câmera para a outra margem – do lado sob chamas – onde havia avistado um jacaré queimado, sem vida.
É possível ver as marcas das queimaduras no animal. Uma cena muito triste que assusta e nos remete, mesmo sem querer, a 2020.
Ação criminosa?
Fernando Tortato, pesquisador da ONG Panthera – que atua na preservação de felinos selvagens na região desde 2014 -, explicou ao site G1 que queimadas e incêndios fazem parte da natureza e que muitas espécies estão adaptadas a esse fenômeno. Mas, agora, como há três anos, grande parte do fogo tem origem criminosa.
“O que nos preocupa é a frequência com que esses incêndios vêm ocorrendo nos últimos anos por falta de planejamento do estado e dos bombeiros. Esses incêndios acabam afetando muito as populações de pequenos vertebrados, serpentes, répteis e anfíbios”.
De qualquer forma, de acordo com militares que atuam na região a causa ainda está sendo investigada.
Segundo o Corpo de Bombeiros, o combate ao fogo que se espalha rapidamente, vem sendo realizado com o uso de aeronaves.
Ao todo, trabalham 40 bombeiros, brigadistas e militares do Centro Integrado de Operações Aéreas (Ciopaer) e a ação de combate ainda conta “com três aviões, um helicóptero, dois caminhões auto tanque, dois caminhões pipa, um caminhão auto bomba tanque florestal e dez caminhonetes”, indica o G1.
Ao mesmo tempo, equipes que atuam no parque e a Sala de Situação Central, em Cuiabá, estabelecida pelo governo, analisam a possibilidade de fazer o combate também em solo.
Desde o início do mês, quando o fogo começou a se alastrar, Pantanal está sendo monitorado via satélite.
A seguir, assista ao vídeo de Erisvaldo que registrou a onça-pintada abrigada do fogo do outro lado do rio:
Leia também:
– Foto de Amanaci, um dos símbolos dos incêndios no Pantanal, é destaque no Wildlife Photographer of the Year (outubro 2023)
– 2021 foi o ano mais seco no Pantanal desde 1985 (novembro 2022)
– “Jaguaretê-Avá: Pantanal em Chamas”, do documentarista brasileiro Lawrence Wahba é premiado no maior festival de cinema ambiental do mundo (outubro 2022)
– Incêndios de 2020 no Pantanal mataram 17 milhões de animais (setembro 2021)
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Fontes: G1 e Erisvaldo Almeida
Foto: reprodução do vídeo de Erisvaldo Almeida