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Entre placas de tristeza e poesia nos muros


Foi  assim. De uma hora para outra comecei a ver casas mais antigas, algumas de madeira, demolidas aqui no meu bairro, Água Verde, em Curitiba. Primeiro foi a do terreno ao lado, onde agora a farmácia se espicha para o alto como se fosse virar uma Drugging Center. O pé de mexerica foi derrubado, ao contrário do prometido pelos construtores. O abacateiro continua ali, mas muito acuado. Imagino que quase sufocado pela poeira e irritado com tanto barulho e máquinas, assim como eu. Trocamos votos de melhoras. No meio da paisagem concreta, a vista do abacateiro continua sendo meu alívio.

Saio para o meu yoga bem aqui perto e passo por mais vestígios de demolição. Sempre soube que bem atrás do meu prédio passava um rio. Mas nunca tinha conseguido ouvir o barulho. Hoje, entrei, sem convite mesmo, no terreno já quase vazio, à espera da próxima construtora, e avistei uma porta. Os moradores mantinham uma saída para o rio preso entre um muro do fundo e outro. Ouvi um barulho bom… Barulho bom sim, mas de uma água com cor suspeita.

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Vou escrevendo aqui e me lembrando de outros posts em que falei dos grandes e inconsequentes empreendimentos imobiliários,  dos rios que correm por baixo das cidades…

Falava de lugares a muitos quilômetros de distância de mim… Com histórias tão próximas, o meu ímpeto para continuar tocando no assunto só cresce.  Vou conversando com a vizinhança e vejo todos felizes porque a região vai ficar mais valorizada, a segurança vai aumentar… Como argumentar diante de tanto lado bom? Quem quer ouvir falar de abacateiro ou de barulho de rio? Eu é que queria que o assunto derrubada do pé de mexerica virasse mexerico no bairro, mas não… Essas coisas pouco reverberam diante do bem que mais uma farmácia trará para o bairro. Falar contra é quase coisa de lunático.

O meu consolo é que uma alma mais sensível decidiu tornar a minha subida, pela Professor Luiz César, para o yoga, menos triste.  O poeta G.L. – não faço ideia de onde veio ou para onde vai – usou o espaço da demolição como suporte para gravar poesia.

A arte como alicerce. Um sustentáculo para o silêncio revelador. Base para a atenção delicada.

Me escoro nas palavras.  Procuro encontros. Não fico prevfendo despedidas. E nem as temo. Ou penso, por breves e bons instantes, que não.

Tomo o exemplo do poeta e parto para desbravar espaços.

Mas a palavra amarrada ao tronco me detém.

 

E me vejo escrava desse mundo, tentando fugir.  Pensei em sumir a nado pelo rio. Quem sabe acabo em alguma estação de tratamento que expurgue essa minha mania de não acreditar às cegas nas benesses do mundo moderno.  Um lugar que me transforme numa burocrata qualquer, assessora de alguma empresa que  jogue seus resíduos poluentes nos nossos rios.

Fotos: Karen Monteiro

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GL (@zizica)
7 anos atrás

Achei sua página sem querer e fiquei contente que gostou do que estava escrito ali. Sou a autora, a G.L.

Obrigada por valorizar as expressoes da rua, diferente do dono do terreno que me viu nessas demolicoes e fez questão de me mandar embora e me humilhar. Enfim, desculpe o desabafo e novamente obrigada pela sensibilidade

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