Em agosto de 2021, o grupo extremista Talibã, que tomou o controle do governo do Afeganistão, prometeu que iria respeitar os direitos das mulheres. Todavia havia ceticismo quanto à afirmação já que, quando esteve no poder entre 1996 e 2001, isso não aconteceu. Poucas semanas após a chegada a Cabul, já foi possível perceber que a intenção era exatamente o oposto.
Pra começar, já em setembro do ano passado meninas e mulheres foram proibidas de praticar esportes no país e apenas alunos do sexo masculino foram convocados para a volta às aulas.
Desde lá, as escolas para meninas entre 7 e 12 anos nunca mais foram reabertas e as mulheres só podem sair nas ruas acompanhadas de um homem, da própria família, e com o corpo todo coberto e véu sobre o rosto, fazendo com que a maioria delas passe o dia todo praticamente trancada em casa.
E na semana passada, a situação ficou ainda pior. O Talibã anunciou que mulheres, mesmo ao lado de homens, estavam banidas de visitar todos os parques em Cabul. Segundo o governo, “elas não estariam respeitando a lei islâmica (Sharia)”.
Já nesta segunda-feira (14/11), o grupo extremista divulgou que irá reinstaurar as punições para crimes previstas pela Sharia, que incluem apedrejamento, amputação de membros e execuções públicas.
Em setembro, as Nações Unidas pediram para que o Talibã reabrisse as escolas para as meninas e chamou o comportamento do governo de “vergonhoso”.
“Um ano de conhecimento perdido e oportunidade que elas nunca vão recuperar”, lamentou o secretário-geral da ONU, António Guterres, em seu Twitter. “As meninas pertencem à escola. O Talibã deve deixá-las voltar.”
Estima-se que 3,5 milhões de crianças e adolescentes nas escolas afegãs eram mulheres até que o governo anterior fosse derrubado. Nas últimas décadas, elas puderam voltar a estudar ou mesmo, tocar instrumentos musicais, algo proibido pelo Talibã. Profissionais do sexo feminino exerceram cargos públicos e em empresas. Enfim, puderam sonhar com um futuro mais justo e igualitário. Infelizmente esse sonho não existe mais desde agosto de 2021.
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Foto de abertura: Global Panorama/Marius Arnesen/Flickr/Creative Commons (mulheres de burka)