Poucos dias antes do juiz americano Peter Cahill anunciar a pena de 22 anos e meio de prisão para o ex-policial Derek Chauvin, condenado em abril pelo homicídio do ex-segurança George Floyd, caso que teve repercussão global e levou milhares de pessoas para as ruas do mundo inteiro para protestar contra o racismo e a discriminação aos negros, o mais renomado prêmio de jornalismo internacional, o Pulitzer, fez uma menção especial ao papel fundamental da adolescente Darnella Frazier nesse episódio tão triste da história.
A jovem, que então tinha 17 anos, gravou com seu celular a prisão e os longos nove minutos em que Derek Chauvin manteve o joelho sobre o pescoço de George Floyd, provocando sua morte por asfixia, apesar das súplicas repetidas dele por ar. Sua frase desesperada “Eu não consigo respirar” virou um novo símbolo do movimento negro. A gravação foi divulgada por ela nas redes sociais e causou muita revolta e consternação.
Vários especialistas criminais dos Estados Unidos afirmam que, o vídeo de Darnella, foi fundamental para a condenação ex-policial.
Ao anunciar a menção honrosa, o comitê do Pulitzer declarou: “Por registrar corajosamente o assassinato de George Floyd, um vídeo que gerou protestos contra a brutalidade policial em todo o mundo, destacando o papel crucial dos cidadãos na busca dos jornalistas pela verdade e justiça”.
Quando testemunhou durante o julgamento em abril, Darnella contou que estava indo a uma mercearia para comprar lanches com sua prima de 9 anos quando viu um homem sendo imobilizado na calçada, “apavorado, assustado, implorando por sua vida”. Como não queria que a criança continuasse assistindo aquela cena de horror, mandou que ela entrasse na loja e começou a filmar tudo com seu celular. “Não era certo. Ele estava sofrendo. Ele estava com dor”, lembrou.
Apesar disso, a jovem americana disse durante seu testemunho que gostaria de ter feito mais por Floyd. Que ao olhar o pai e tantos outros homens negros teme que eles possam passar pela mesma situação. “Há noites em que fico acordada, pedindo desculpas a George Floyd por não ter feito mais e interagido fisicamente para salvar sua vida”.
No ano passado, Darnella Frazier também recebeu o Prêmio de Bravura da organização PEN America. “Com nada mais do que um telefone celular e pura coragem, Darnella mudou o curso da história neste país, desencadeando um movimento ousado, exigindo o fim do racismo e da violência sistêmica contra os negros pelas mãos da polícia”, ressaltou Suzanne Nossel, CEO da instituição. “Com notável firmeza, Darnella realizou o ato expressivo de dar testemunho e permitir que centenas de milhões de pessoas em todo o mundo vissem o que ela viu. Sem a presença de espírito de Darnella e prontidão para arriscar sua própria segurança e bem-estar, talvez nunca tenhamos conhecido a verdade sobre o assassinato de George Floyd. Estamos orgulhosos de reconhecer sua coragem excepcional com este prêmio”.
Imagem de uma câmera policial mostra Darnella, de calça azul, filmando o assassinato de George Floyd
*Com informações da Agência de Notícias Associated Press
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Foto: reprodução Instagram Darnella Frazier (abertura) e divulgação Minneapolis Police Department