Em março de 1904, no Congo — hoje, República Democrática do Congo —, o jovem Ota Benga foi sequestrado pelo comerciante americano Samuel Verner e levado à Nova Orleans para ser exibido ao lado de outros jovens negros em uma Feira Mundial de Saint Louis (foto abaixo).
Ele devia ter entre 12 e 13 anos e, em setembro, protagonizou um dos piores episódios de racismo da história. Foi transferido para o Jardim Zoológico do Bronx, em Nova York, para ser exibido numa jaula junto com macacos.
A intenção do zoológico era aumentar a quantidade de visitantes. Atraiu multidões.
O episódio tenebroso rendeu notícias de destaque em periódicos dos Estados Unidos e da Europa, um dia depois da primeira exibição de Ota Benga no zoológico: 9 de setembro de 1906. O garoto permaneceu nessas condições por cerca de 20 dias, até que, sacerdotes cristãos conseguiram tira-lo de lá, depois de muita mobilização.
Para reparar essa situação com justiça, os mercadores e o zoológico deveriam ter enviado Ota de volta à sua terra natal. Mas a viagem ficaria muito cara, então ele foi levado para o orfanato Howard, em Nova York, coordenado pelo reverendo afro-americano James H. Gordon.
Em 1910, foi transferido para Virgínia para viver no Seminário Teológico e Faculdade Lynchburg para estudantes negros. Lá, se dedicou aos estudos e a “ensinar jovens da vizinhança a caçar e pescar”, conta a reportagem da BBC.
Ota também gostava de contar histórias sobre suas aventuras na infância. Sentia muita saudade e tristeza por estar longe de casa, o que o levou à depressão e, em março de 1916, ao suicídio. Ele devia ter 25 anos.
Antes tarde do que mais tarde
O pedido de desculpas foi emitido pela Sociedade para a Conservacao da Vida Selvagem (Wildlife Conservation Society – WCS), que administra o zoológico. Em entrevista à BBC, seu presidente, Cristian Samper, declarou que “é importante refletir sobre a própria história da instituição e sobre o racismo”.
Ele destacou também que a instituição está disponível para responder a quaisquer perguntas sobre o fato e que será totalmente transparente. Isso representa um grande avanço já que, ao longo de muitos anos, a instituição mentiu e tentou acobertar o caso de Ota Benga. E a imprensa ajudou: quando Ota morreu, o The New York Times chegou a dizer que sua exposição numa jaula com macacos não passava de “lenda urbana”.
O mea culpa do zoo nova iorquino certamente tem influência do movimento antirracista que tomou conta dos Estados Unidos e de várias partes do mundo – Black Lives Matter – iniciado com o assassinato de George Floyd, por um policial, em maio deste ano.
A decisão – com mais de um século de atraso – não altera o curso da história, nem apaga da memória a monstruosidade cometida contra o jovem Ota. Mas certamente pode se somar aos inúmeros atos que nos levarão a uma sociedade mais justa e igualitária.
Foto: Biblioteca do Congresso dos EUA
Fonte: BBC (para se aprofundar no assunto, clique aqui)