Tchááá… E foi água para todo lado. Para todo lado, de todo jeito e de todas formas. Que coisa essa de contrariar a natureza líquida e insistir em moldá-la sem molde, em formatá-la sem rigidez e transformá-la, assim, de repente, em apenas um frame, num objeto, num ser. Uma forma que se não se desfizesse no espaço, voaria de nossas mãos…
O japonês Shinichi Maruyama brinca com a água. Salta da expectativa para a efemeridade com decisão e delicadeza. Como fazia quando criança se a professora pedia para escrever um texto. Ele sempre se lembra daqueles vagos momentos em que ficava olhando para o papel em branco… Para o instante em que o nada passaria a ser palavra narrada, letra imposta à linha. Assim como a água que conta uma história enquanto cai no chão. Até virar uma poça puxada pela gravidade vai, na queda, transformando-se em imagens frisadas ao sabor do ar e do artista.
Supondo que essa história de fazer um buraco na terra não fosse só coisa de Júlio Verne em seu livro Viagem ao Centro da Terra, quem sabe pudéssemos encontrar, seguindo essa poça japonesa em seu caminho para o centro dos nossos mares, uma sereia.
Esta do artista brasileiro Valdi Valdi, pintada num muro de Macaé, a capital nacional do petróleo, no Rio de Janeiro. Não sei quanto tempo ela sobreviverá tentando afastar plataformas para retiradas de petróleo a profundidades de quase dois mil metros. Estão todos com ceras no ouvido para não ouvir esse canto atraente que já fez tanto navio colidir por conta da mitologia e de Homero.
É claro que a população e os trabalhadores que vivem em torno dessa economia não conseguem nem pensar nisso, em não explorar petróleo. Mas, tenho que dizer, luto pela substituição da matriz energética. Quero muito que os carros elétricos, movidos por baterias carregadas com energia solar consigam enfrentar a indústria petrolífera e entrem de forma massiva no mercado um dia. Ideia que nada no mar das impossibilidades e irrealidades, assim como a imaginária sereia?
Bem, o petróleo vai acabar um dia, antes de o sol explodir… Quem dominar a tecnologia do abastecimento por energia solar vai sair na frente. É fato. Não é porque não vamos estar aqui que não vamos lutar por isso, certo? Perfurar, perfurar… Esse critério da lucrativa, poluente e desumana irresponsabilidade ambiental tem que ser revisto. Fico aqui pensando se esse pessoal tem filhos. Se pensa nos netos, bisnetos, tataranetos. Cá para nós. Sem oxigênio ou com a terra aquecida a níveis bem menos confortáveis do que os do ar-condicionado, pouco se pode fazer com a riqueza acumulada. Vai tudo por água abaixo, pelo ralo adentro. Ou pelo esgoto. Ou por algum buraco como este fotografado por Junior Amo Jr. Um vazio concreto.
Não são buracos que deságuam nos nossos rios porque no futuro esse problema já terá sido resolvido, certo? Sem ironias. Só um pensamento. Não um eunoia, que em grego significa “belo pensamento”. Aonde foram parar os belos pensamentos do homem robô da cidade? É bom lembrar o poder que as nossas ondas mentais carregam. Ele é escancarado num trabalho da artista Lisa Park, criadora de uma obra de arte que vibra de acordo com sua atividade cerebral. Um aparelho transforma as ondas em fluxos de dados e faz tigelas com água vibrarem.
As caixas de som embaixo das tigelas emitem vibrações diferentes, dependendo da emoção: tristeza, raiva, ódio, desejo e felicidade. Durante um mês, a artista focou seus pensamentos em pessoas com quem ela tem fortes relações emocionais para provocar as diferentes ondas. O nome da obra? Eunoia. Belos pensamentos para você! Para nós.
Fotos: Obras 1,2, de Shinichi Maruyama (site do artista), Obras 3 e 5 de Valdi Valdi (Flickr) e Obra 4 Junior Amo Jr (Flickr)