Rede de supermercados sueca boicota produtos brasileiros por causa de excesso de agrotóxicos

Rede de supermercados sueca boicota produtos brasileiros por causa de excesso de agrotóxicos

“Não podemos continuar a oferecer alimentos do Brasil de consciência limpa, desde que a quantidade e o ritmo da liberação de agrotóxicos estejam aumentando tão fortemente no país. Por isso, decidimos que eles devem ser retirados imediatamente de nossas prateleiras para, como sempre, oferecer os alimentos mais sustentáveis e limpos da Suécia ”, diz Johannes Cullberg, CEO e fundador da cadeia de supermercados Paradiset, em comunicado à imprensa.

Maior rede que comercializa produtos orgânicos e naturais na Escandinávia, a Paradiset anunciou ontem (05/06) o boicote aos alimentos brasileiros e ainda, conclamou outras empresas do setor a agir da mesma maneira, em sua página no Facebook.

“Esperamos que mais colegas nossos façam o mesmo! Juntos podemos mostrar que essa quantidade de pesticidas não é ‘ok’! Por favor, compartilhe esta mensagem para outras redes, como Coop, Lidl, Willys… Elas podem nos ajudar a fazer esta mudança em todo país”.

A decisão da Paradiset ocorreu depois que a administração da empresa ficou sabendo da liberação recorde de pesticidas no Brasil nos primeiros meses de 2019, após o início do governo Bolsonaro.

Como mostramos neste outro post, o Ministério da Agricultura liberou 197 novos pesticidas no mercado. Entre os produtos “extremamente perigosos” do novo lote, estão três formulações do herbicida 2,4-D, um dos princípios ativos do “agente laranja”, arma química usada para derrubar florestas durante a Guerra do Vietnã (que ocorreu entre 1959 e 1975).

A substância foi banida de países como Austrália e Canadá. Aqui, no Brasil, está em processo de avaliação desde 2006, mas agora liberada.

Outros três agrotóxicos contêm ainda o polêmico e tóxico glifosato, que está no centro de processos bilionários movidos contra sua fabricante, a Bayer/Monsanto, nos Estados Unidos e na Europa.

Segundo relatório publicado em 2015, pela Organização Mundial de Saúde (OMS), o glifosato provocou câncer em animais tratados em laboratório e é um potencial causador de alterações na estrutura do DNA e cromossomos das células humanas.

Em um dos julgamentos realizado na Califórnia, onde já houve ganho de causa para quatro pessoas contra a Monsanto, um médico explicou ao júri que o herbicida à base de glifosato, no caso o Roundup, penetra nas células da pele, depois nos tecidos, no sistema linfático e no sangue, por isso é tão prejudicial à saúde humana.

Agrotóxicos banidos na Europa estão liberados no Brasil

Em seu comunicado, a Paradiset disse ainda que a maioria dos pesticidas usados no Brasil não é permitida na União Europeia e, portanto, não na Suécia também.

“Além disso, várias das substâncias atualmente aprovadas (no Brasil) têm conexões claras com o câncer e não há controles e estudos sobre como os vários pesticidas reagem uns com os outros”, destacou a rede.

Em uma matéria publicada aqui, no Conexão Planeta, em 2017, mostramos como, já naquela época, o Brasil consumia 1/5 dos agrotóxicos produzidos no mundo e cerca de 1/3 deles era proibido na Europa. O feijão que o brasileiro come, por exemplo, pode conter 400 vezes mais resíduo de inseticida do que o mesmo grão no continente europeu.

Frutas, café e chocolate brasileiros já foram retirados
das prateleiras do Paradiset

Cullbert responsabiliza o presidente Jair Bolsonaro pela liberação irresponsável de agrotóxicos nas lavouras brasileiras.

“O fato de que o número de pesticidas permitidos no Brasil tenha aumentado tão fortemente é devido ao presidente Jair Bolsonaro, que assumiu o cargo no final do ano e nomeou uma defensora aberta de pesticidas químicos como Ministra da Agricultura”, afirma.

O CEO da Paradiset está realmente bem informado. Teresa Cristina, ex-líder da Frente Parlamentar Ruralista, é conhecida no Congresso como “musa do veneno”.

Recentemente, em audiência em Brasília, quando alguns deputados apresentaram estudos acadêmicos que comprovam a presença de substâncias que compõem os agrotóxicos nas águas dos rios e no leite materno, a ministra disse que seu ministério rejeita a veracidade desse estudos, já que as substâncias encontradas poderiam ser oriundas de outros produtos, que não agrotóxicos.

Ela também refuta o que instituições de pesquisa como FioCruz, Abrasco e Inca, bastante reconhecidas, confirmam: a ligação entre agrotóxicos e doenças como câncer e o Mal de Parkinson, além da má formação de fetos, a depressão e o suicídio.

De acordo com a rede de notícias francesa RFI, o Paradiset já teria tirado de suas prateleiras frutas brasileiras como melão, melancia, mamão, manga, limão, água de coco, além de café e barras de chocolate.

Infelizmente, quem vai sofrer com a nova política do governo Bolsonaro de liberação desenfreada de agrotóxicos serão os agricultores brasileiros, que cada vez mais, enfrentarão resistência à compra de nossos produtos.

No vídeo abaixo, o fundador da cadeia faz um apelo e se diz preocupado com a saúde de seus consumidores, agricultores e suas famílias:

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Fotos: reprodução Facebook Paradiset

3 comentários em “Rede de supermercados sueca boicota produtos brasileiros por causa de excesso de agrotóxicos

  • 9 de junho de 2019 em 1:37 PM
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    Quem sabe com o boicote internacional aos nossos produtos “envenenados” nosso governo
    se motive a repensar seus equívocos, corrigindo sua lição de casa, aprendendo com os mais velhos e mais sábios a não matar o planeta nem os terráqueos, nem os animais e todos os seus recursos naturais porque até uma criança sabe como se faz isso, é só perguntar a ela.

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  • 17 de junho de 2019 em 6:31 PM
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    Triste isso, mas positivo. Se as redes nacionais agem como se não importassem com a qualidade dos produtos que oferecem ao povo Brasileiro, ao menos uma rede internacional o faz com louvor e dignidade denunciando tamanha injustiça para com os consumidores de tanto veneno. Quando alguém do nosso país fará algo tão nobre? Que Deus tenha piedade de nós!!!

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Suzana Camargo

Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.