Preocupados com desmatamento e povos indígenas, investidores internacionais enviam carta e pedem reunião com embaixadores do Brasil

Preocupados com desmatamento e segurança de povos indígenas, investidores internacionais enviam carta e pedem reunião com embaixadores do Brasil no exterior

Repetindo um movimento já realizado em setembro do ano passado, quando 230 investidores de fundos no valor de U$$ 16,2 trilhões cobraram ações de empresas contra o desmatamento na Amazônia, agora foi a vez de pressionar o governo do Brasil sobre a proteção da floresta e dos povos indígenas do país.

Um grupo de 30 investidores internacionais – da Europa, Ásia e Estados Unidos -, enviou hoje uma carta às embaixadas do Brasil nos Estados Unidos, no Reino Unido, na Holanda, na França, na Noruega e na Suécia. Com ativos na ordem de US$ 4,1 trilhões, eles relatam apreensão com a atual situação ambiental sob o governo do presidente Jair Bolsonaro.

“É com profunda preocupação que temos acompanhado o aumento do desmatamento no Brasil. Como instituições financeiras, que têm o dever fiduciário de agir no melhor interesse de nossos clientes a longo prazo, reconhecemos o papel crucial que as florestas tropicais desempenham no combate às mudanças climáticas, na proteção da biodiversidade e no fornecimento de serviços ecossistêmicos”, escreve o grupo, que menciona ainda a possível aprovação do Projeto de Lei 2633, o ‘PL da Grilagem’.

“Estamos profundamente preocupados com a Medida Provisória 910 (recentemente alterada para PL 2633/2020), que foi submetida a votação no congresso brasileiro e que legalizaria a ocupação de terras públicas, principalmente concentradas na Amazônia. Caso a medida seja aprovada, incentivará a ocupação ilegal de terras públicas e o desmatamento generalizado, o que colocaria em risco a sobrevivência da Amazônia e o cumprimento das metas do Acordo de Paris, prejudicando também os
direitos das comunidades indígenas e tradicionais”.

Os signatários do documento, que incluem, dentre outros, a norueguesa Storebrand, o Legal and General Investment Management (LGIM), do Reino Unido, a Sumitomo Mitsui Trust Asset Management, do Japão, e o NN Invesment Partners, da Holanda, criticaram as declarações do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, sobre “a canetadas, passar a boiada” para afrouxar a legislação ambiental no Brasil.

“Declarações recentes do Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, usando a crise causada pela pandemia para promover a desregulamentação ambiental e os projetos de lei visando legalizar a ocupação de terras e florestas públicas, abrir os territórios dos povos indígenas para mineração e enfraquecer o sistema de licenciamento ambiental são apenas algumas das ameaças que temos observado em relação às políticas ambientais e aos direitos humanos no Brasil”.

O grupo de investidores afirma ainda que as constantes violações dos direitos dos povos indígenas podem “implicar em potenciais consequências para os riscos de reputação, operacionais e regulatórios, de nossos
clientes e empresas investidas” e que “como instituições financeiras, vemos o desmatamento e os seus impactos sobre a biodiversidade e as mudanças climáticas como riscos sistêmicos para nossas carteiras”. Eles dizem ainda que querem continuar investindo no Brasil, mas pedem que o governo Bolsonaro tome medidas urgentes sobre essas questões.

Ao encerrar a carta, os investidores solicitam a realização de uma videoconferência com os embaixadores em data a ainda ser confirmada (leia o texto da carta, na íntegra, aqui).

Novamente, a comunidade internacional chama a atenção do governo brasileiro.

Desde o ano passado, o Brasil tem sofrido reveses por causa de sua política ambiental. Em junho, uma rede de mercados sueca tirou de suas prateleiras produtos brasileiros por causa do excesso de agrotóxicos usados no país. No auge da crise dos incêndios florestais na Amazônia, em agosto, marcas internacionais suspenderam a compra de couro brasileiro e França, Finlândia, e Irlanda também fizeram ameaças de sanções comerciais ao devido ao aumento do desmatamento.

*Com informações do Observatório do Clima

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Foto: cbm/ro/fotos públicas

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Suzana Camargo

Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.