
O estado de São Paulo está beirando as 60 mil mortes causadas pela pandemia da Covid-19 e tem quase 75% de seus leitos de UTI ocupados com pacientes em tratamento da doença, segundo dados mais recentes disponibilizados no site do governo. Assim como no resto do país, o sistema público de saúde enfrenta dificuldades para atender tantos casos e pode entrar em colapso.
Apesar disso, muitos governadores se mostram reticentes em adotar medidas mais rígidas para o controle da pandemia, como já foi feito em outros diversos países, caso de Portugal, Alemanha, França e Reino Unido. Na Nova Zelândia, por exemplo, devido ao registro de uma pessoa que testou positivo para o coronavírus (sim, uma apenas!), Auckland entrou em lockdown por alguns dias na semana passada.
Enquanto isso, no Brasil, quando o número de vítimas se aproxima de 255 mil e já são mais de 10 milhões de infectados, restrições mais rígidas ainda não foram adotadas.
“Há uma total desconexão da vida cotidiana com a realidade da pandemia. As novas variantes em circulação, a falta de um programa de vacinas efetivo e célere, o cansaço frente às medidas de prevenção e controle e o negacionismo enraizado em segmentos críticos da nossa sociedade, sobretudo político e econômicos, configuram uma real ameaça à nossa vida”, alerta, em carta, a Sociedade Paulista de Infectologia.
De acordo com os profissionais da entidade, as variantes do SARS-CoV-2, vírus que causa a Covid-19, estão dotadas de mecanismos de disseminação mais efetivos. “As variantes aproveitam-se da falta absoluta de distanciamento para expandir-se em todo o território brasileiro e no mundo. Resultam assim em mais contágio, reinfecções, adoecimentos e mortes, com o rápido esgotamento da nossa capacidade assistencial.
Comprometem jovens, adultos e idosos, vulneráveis ou não”.
Em sua carta pública, a Sociedade Paulista de Infectologia enfatiza a necessidade de ampliação de medidas sociais restritivas para o controle da pandemia.
Confira abaixo outros pontos destacados pela entidade:
“… É ainda necessário enfatizar que, não existem terapias eficazes contra o SARS-CoV-2. Pacientes graves têm alta taxa de morte e graves sequelas a despeito dos melhores recursos assistenciais. Que dirá em meio ao caos em que até oxigênio pode faltar? Na prevenção, uma vacinação lenta, em recortes populacionais, está fadada a não resultar em proteção efetiva em tempo oportuno. A seguir esse ritmo, em que marcas expressivas de óbito e infectados ocorrem a intervalos cada vez mais breves, não podemos ter outro cenário em mente, se não, o colapso da saúde. E em meio ao caos não há vida, não há economia, não há nada além do que o incerto.
Existem experiências de sucesso e relatos suficientes na Literatura científica para sabermos que esse cenário pode, e precisa, ser revertido. Porém, enquanto em fevereiro a incidência global de Covid-19 caiu pela metade no mundo, ela continua em aceleração no Brasil. Essa situação nos traz riscos de colapso, não só da saúde, mas de toda a sociedade. Economia e vida em sociedade são indissociáveis da saúde. E esta prioriza a vida.
As atuais medidas de controle da pandemia em vigor no PLANO SÃO PAULO mostram-se insuficientes para reduzir a transmissão do vírus. Assim sendo, dirigimo-nos ao Excelentíssimo Governador e autoridades do Estado, solicitando políticas públicas que incluam maior rigidez no distanciamento social e controle de mobilidade populacional. Essas medidas requerem restrições maiores a serviços não essenciais em regiões do estado sem acometimento crítico pela pandemia, e lockdown com toque de recolher prolongado (por exemplo, a partir de 20h00) naquelas que se encontram próximas ao colapso assistencial. Incluem também ampliação da oferta de testagem e maior velocidade nas estratégias vacinais.
À população, recomendamos o distanciamento (pelo menos 1,5 metros de uma pessoa a outra), uso correto e contínuo de máscaras bem ajustadas na face, higiene das mãos e – sobretudo – que se permaneça em casa o maior tempo possível.
Cada medida isoladamente (e especialmente o conjunto de todas) impacta a cadeia de transmissão ou controle. É responsabilidade de cada cidadão cumprir as normas para proteger-se e proteger as demais pessoas. Cabe ao Estado fiscalizar e prover condições cientificamente embasadas para o cumprimento dessas ações de prevenção”.
Hoje, o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) também divulgou uma nota em que pede toque de recolher nacional e fechamento de escolas, bares e praias contra o colapso da saúde na pandemia.
No documento, a entidade defende ainda a instituição de barreiras sanitárias nacionais e internacionais, considerados o fechamento dos aeroportos e do transporte interestadual; a proibição de eventos presenciais como shows, congressos, atividades religiosas, esportivas e correlatas em todo território nacional; a adoção de medidas para redução da superlotação nos transportes coletivos urbanos e a ampliação da testagem e acompanhamento dos testados, com isolamento dos casos suspeitos e monitoramento dos contatos.
O texto completo da carta você encontra aqui.
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Foto: Paulo Pinto/Fotos Públicas