Grupo de médicos e cientistas pede impeachment de Bolsonaro por “crimes cometidos na condução da pandemia”

Grupo de médicos e cientistas pede impeachment de Bolsonaro por "crimes cometidos na condução da pandemia"

Um grupo formado por oito médicos e cientistas brasileiros protocolou uma denúncia com pedido de perda do cargo e de direitos políticos (impeachment) de Jair Bolsonaro. No documento, de 54 páginas, entregue ao presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, os profissionais de saúde acusam o presidente do Brasil de ter cometido diversos crimes na condução do governo em resposta à pandemia da Covid-19.

Logo no início do documento, os profissionais citam frases célebres e lamentáveis ditas por Bolsonaro nos últimos meses, quando questionado sobre a pandemia:

“Se você tomar vacina e virar jacaré, é um problema de você, pô.”
“Pelo Supremo Tribunal Federal, eu tinha que estar na praia, tomando uma cerveja.”
“Não sou coveiro, tá?”
“E daí?”

“O Sr. Jair Messias Bolsonaro abusou dos poderes constitucionais e políticos inerentes a seu cargo para, em prejuízo da saúde da população brasileira, obter vantagens políticas para si em meio à pandemia de Covid-19. Com isso, prejudicou de maneira patente a saúde dos brasileiros, minou relações federativas indispensáveis em uma emergência sanitária e achincalhou de modo indelével a dignidade e a honra do cargo de Presidente da República, por sua reiterada quebra de decoro”, diz o começo do resumo da acusação.

Segundo o grupo, o presidente usou da autoridade, prestígio e visibilidade inerentes à Presidência da República para disseminar desinformação, exortar o descumprimento de medidas sanitárias e disseminar
a ilusão de tratamentos precoces, levando seu povo a arriscar sua saúde diante de um vírus letal.

“Além de ter negado a gravidade da pandemia de Covid-19 e aderido a um negacionismo científico incompatível com a respeitável tradição sanitarista do Brasil, ele positivamente agiu para tornar menos eficaz as respostas do governo federal necessárias à preservação da vida e da saúde dos brasileiros”, afirmam os profissionais.

Assinam a denúncia:

  • Daniel de Araújo Dourado – Médico, advogado e pesquisador Associado do Núcleo de Pesquisa em Direito Sanitário da Universidade de São Paulo (NAP-DISA/USP)
  • Eloan dos Santos Pinheiro – Ex-diretora da Far-Manguinhos (Fiocruz)
  • Ethel Leonor Noia Maciel – Pesquisadora no Campo da Saúde Coletiva, com ênfase em Epidemiologia
  • Gonzalo Vecina Neto – Médico, professor de saúde pública da Universidade de São Paulo (USP) e ex-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)
  • José Gomes Temporão – Médico sanitarista e ex-ministro da Saúde
  • Reinaldo Ayer de Oliveira – Médico e Conselheiro do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (CREMESP)
  • Ricardo Oliva – Médico sanitarista
  • Ubiratan de Paula Santos – Pneumologista do Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo

O documento ainda apresenta como testemunhas que podem ser ouvidas durante o processo Luiz Henrique Mandetta, ex-ministro da Saúde, Dimas Tadeu Covas, diretor do Instituto Butantan, Clóvis Arns da Cunha, presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, Margareth Dalcolmo, cientista e pesquisadora da Fiocruz, Miguel Nicolelis , coordenador da Comissão Científica do Consórcio Nordeste para Combate ao
Coronavírus e Carlos Murillo, presidente da companhia farmacêutica Pfizer no Brasil.

Vale lembrar, que enquanto o Brasil luta contra a falta de vacinas para imunizar a população, a Pfizer revelou que ofereceu ao governo 70 milhões de doses, mas nunca obteve resposta do governo federal.

Recentemente, conforme mostramos em outra reportagem, em um ranking global, o Brasil apareceu como o pior país na gestão da pandemia, em último lugar entre 98 nações. A falta de liderança teria sido fatal para as já mais de 230 mil vítimas da COVID-19.

E não é só. Uma das mais respeitadas revistas médicas do mundo, a Lancet, publicou o artigo: “SOS Brasil: ataques à ciência”. Nele, Pedro Hallal, um dos maiores especialistas sobre a pandemia no Brasil, escreveu sobre sua frustração, desespero e revolta frente aos ataques feitos por Bolsonaro aos pesquisadores do país, através de deboche, corte de verbas e negacionismo.

Agora cabe ao novo presidente da Câmara decidir se aceita ou não esse novo pedido de impeachment. Já foram protocolados mais de 60 denúncias contra Bolsonaro e nenhuma delas foi adiante até hoje. Dificilmente esta também irá, já que Arthur Lira é aliado político do presidente.

*O texto completo da denúncia de impeachment você encontra aqui.

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Foto: Carolina Antunes/PR/Fotos Públicas

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Suzana Camargo

Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.