Não tinha como escrever sobre outra coisa. Sim, as eleições. Deixa te contar que me interesso pelo outro, pela diferença. Pelo acesso universal a direitos. Que me interesso por outros modos de vida, outras cosmogonias. Pela preservação e conservação do meio ambiente. Pela diversidade biológica. Pelo contato com a natureza.
Que me mobilizo pela justiça socioambiental. Pelos povos originários e pelos quilombolas, seus saberes, sua cultura. Pelos agricultores familiares. Pela economia solidária.
Que percebo meus privilégios e me desfaço para me refazer a cada manhã, buscando dissipar pré-conceitos legados pelo racismo estruturante em que fomos criados. Se você me lê aqui no Conexão Planeta, já deve ter percebido isso.
Pois pensando nesses mundos que tangencio – e digo mundos porque cada vez menos acredito em um só mundo -, e que me transformam a cada dia, sofri muito com a onda conservadora que vimos se fortalecer nessas eleições.
O Brasil carece de empatia. De pisar o chão pelos pés do outro. De entender que o país não se faz com farinha pouca, meu pirão primeiro. Que política é sobre ser para todos e não para um clube de amigos. Que política pública é construída com e para as pessoas, territórios e comunidades.
E como chegamos a isso num lugar em que as pessoas não reconhecem ou abrem mão de seus privilégios? Que olham o outro como inimigo, imbuídos de violência e ódio? Em que o fascismo está presente no nosso dia a dia, na violência contra jovens negros nas periferias, na violência e opressão à mulher?
Em que Amazônia, o Cerrado, a Mata Atlântica, todos os nossos biomas, registram desmatamento e queimadas recordes nos últimos quatro anos. E aumentam os assassinatos de lideranças indígenas, quilombolas, ativistas e jornalistas.
Não podemos permitir a queda do céu, nas palavras do líder Yanomami Davi Kopenawa.
É contra tudo isso que precisamos nos posicionar. Estamos, mais uma vez, na encruzilhada entre civilização e barbárie. E até esses dois termos, tais quais fomos ensinados a empregá-los, merecem reflexão.
Onde a ‘civilização’ nos levou? Em que sentido empregamos a expressão ‘bárbaro’? Relegamos a natureza e os saberes de seus povos a segundo plano, por muito tempo tomamos como opostas natureza e cultura. É tempo de rever tudo isso.
Estamos. Aos poucos essas classificações colonialistas vão sendo questionadas. É tempo. Sempre é tempo. Nas urnas também.
Termino com um texto do poeta Sérgio Vaz:
Foto: Ross Sneddon/Unsplash
Parabéns por este posicionamento.
Porém, a questão seria sair de nossa bula e penetrar na bula do outro que, definitivamente, não deixa abertura alguma, entre interesses próprios, falta de cultura ou memória histórica, confusão entre modernidade e progresso, fanatismo religioso, ingenuidade frente às mentiras que proliferam, perda de foco, pois eleição é, antes de nada, escolher alguém que administre o país (o que há muitos anos agora não vemos acontecer), não alguém, como disse no seu texto, que só obre para seus pares em benefício de ideologias pessoais apenas, em total e manifesto desprezo para com o bem-estar da população de que deveria cuidar.
A quem dirigir suas sábias palavras ? Não querem ouvir…