Após uma nova investigação realizada pela organização Repórter Brasil em parceria com a Mighty Earth oito redes de supermercados da Bélgica, França, Reino Unido e Holanda anunciaram que não comercializarão carne oriunda do Brasil, que seja produzida pela JBS, e tenha ligação com o desmatamento. Vale lembrar que a empresa é maior produtora mundial de carne, com um faturamento anual de US$ 50 bilhões. Além de cortes frescos, serão retirados das prateleiras quaisquer outros que também tenham a carne brasileira como principal ingrediente.
De acordo com a investigação, a JBS continua vendendo carne bovina vinculada ao desmatamento, embora existam cerca de 650 milhões de hectares de terras na América Latina onde a produção agrícola sem desmatamento é possível. Ainda segundo a Mighty Earth a empresa está ligada, de uma forma ou outra, ao desmatamento de 100 mil hectares de floresta nos últimos dois anos. Cerca de 75% dessa destruição ocorreu em áreas protegidas.
“Este é um divisor de águas porque vários supermercados enormes em toda a Europa estão dizendo um enfático ‘Não!’ à carne brasileira em relação às preocupações com o desmatamento”, afirma Nico Muzi, diretor da Mighty Earth Europa. “Este não é um compromisso vago ou um anúncio de marketing em um comunicado de imprensa. Esta é uma série de ações comerciais concretas tomadas por alguns dos maiores supermercados da Europa para parar de comprar e vender carne de uma empresa e de um país que fez muitas promessas e entregou poucos resultados ”.
E Muzi completou: “O Natal chegou mais cedo para as florestas da Amazônia, as savanas do Cerrado brasileiro e o Pantanal”.
Abaixo a lista dos supermercados que anunciaram o boicote:
– Ahold Delhaize – a cadeia holandesa de varejo de alimentos com mais de 7 mil lojas em todo o mundo e receita de € 75 bilhões em 2020;
– Albert Heijn (do grupo da Ahold Delhaize) – se comprometeu a parar de comercializar carne bovina do Brasil para todas as suas lojas. É a maior rede de supermercados da Holanda, com mais de 1 mil lojas e uma participação de mercado de 35% em 2020;
– Delhaize (do grupo Ahold Delhaize) – irá remover todos os produtos Jack Link de suas prateleiras. A empresa é uma das maiores redes de supermercados da Bélgica;
– Lidl Netherlands – não venderá mais carne bovina de origem sul-americana a partir de janeiro de 2022. A empresa faz parte da Lidl Stiftung & Co. KG, uma rede varejista alemã com mais de 11 mil lojas no mundo e receita de mais de US $ 75 bilhões;
– Carrefour Bélgica – comprometeu-se a parar de vender Jack Link’s Beef Jerky na Bélgica e o maior Carrefourdo grupo arima que aumentará a vigilância em todos os países em que opera. A multinacional francesa tem 15.500 lojas e receita de € 79 bilhões em 2020. (A Mighty Earth continua pressionando o Carrefour para uma ação mais ampla em todas as suas lojas);
– Auchan France – irá retirar os produtos de beef jerky vinculados à JBS das prateleiras das lojas. Parte da Auchan Retail International S.A., a multinacional francesa com quase 2 mil lojas em todo o mundo teve faturamento de € 32 bilhões no ano passado;
– Sainsbury – se comprometeu a retirar inteiramente sua marca própria de “corned beef” (presuntada) do Brasil. Segunda maior rede de supermercados do Reino Unido, com uma participação de 16% no setor e mais de 1.400 lojas, ganhou £32 bilhões em vendas em 2020/21;
– Princes Group – anunciou que não firmou um contrato de carne enlatada com a JBS desde novembro de 2020 e se comprometeu com uma nova política de abastecimento de produtos brasileiros que inclui o desmatamento zero. Princes é uma empresa internacional de alimentos e bebidas com sede em Liverpool, no Reino Unido, com £1,5 bilhão em receitas em 2020/21.
Em 2020, o Tesco, outra cadeia britânica e uma das maiores do mundo já tinha vindo à público afirmar que não compra carne do Brasil por causa do desmatamento.
“A ligação entre a pecuária e a destruição de ecossistemas como a Amazônia, o Cerrado e o Pantanal é uma questão complexa, que levamos muito a sério. Tomamos uma série de medidas em conjunto com nossos fornecedores e a indústria em geral para tentar resolver isso, mas não houve progresso suficiente”, declarou em nota o Sainsbury.
A decisão das companhias europeias acontece num momento em que o ritmo da destruição da Floresta Amazônica se mostra cada vez mais acelerado: foram 13.235 km2 devastados entre agosto/2020 e julho/2021, o maior índice desde 2006. É a primeira vez que essa taxa sobe por quatro anos seguidos, desde que as medições começaram a ser feitas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em 1988.
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Foto: Madie Hamilton on unsplash