Marcas da moda, como Zara, Prada e Nike, são coniventes com desmatamento da Amazônia brasileira, denuncia organização internacional

Marcas da moda, como Zara, Prada e Nike, são coniventes com desmatamento da Amazônia brasileira, denuncia organização internacional

O que empresas do mundo da moda como Coach, LVMH, Prada, H&M, Zara, Adidas, Nike, New Balance, Teva, UGG e Fendi têm em comum além serem alguns dos nomes mais famosos do setor e lucrarem bilhões de dólares por ano com seus produtos? Segundo a organização internacional Stand.Earth todas elas importam couro do Brasil e muitos de seus fornecedores estão diretamente ligados ao desmatamento ilegal da Amazônia.

De acordo com dados divulgados pela Stand.Earth em um relatório publicado ontem (29/11), em 2020, o couro respondeu por US$ 1,1 bilhão da receita dos frigoríficos brasileiros – com 80% desse total indo para exportação. E as empresas do mercado da moda compram cerca de 70% do couro mundial.

“Na Amazônia brasileira, as evidências sugerem que quase todo o desmatamento é ilegal. Mesmo assim, commodities produzidas em terras ilegalmente convertidas em pasto continuam a encontrar consumidores nos Estados Unidos, na Europa e em outros mercados importantes. A produção de carne bovina e soja são causas conhecidas do desmatamento na Amazônia. O couro, embora menos conhecido, também é um grande contribuinte para o enorme setor de gado do Brasil”, diz o relatório.

A análise realizada pela organização associa mais de 100 marcas com o desmatamento. São companhias que comercializam bolsas, sapatos, cintos, carteiras e tantos outros artigos fabricados com couro. Aproximadamente 50 delas estão conectadas de alguma maneira com a JBS, a maior produtora mundial de carne do mundo, que recentemente se comprometeu a atingir o desmatamento zero em sua cadeia de abastecimento global até 2035 (no ano passado, milhares de britânicos assinaram uma petição pelo boicote à empresa).

O levantamento chama atenção para o ritmo cada vez mais acelerado da destruição da Floresta Amazônica: foram 13.235 km2 devastados entre agosto/2020 e julho/2021, o maior índice desde 2006. É a primeira vez que o índice sobe por quatro anos seguidos, desde que as medições começaram a ser feitas pelo Inpe, em 1988.

O que surpreende os pesquisadores envolvidos no estudo é que a maioria das empresas mencionadas têm políticas de sustentabilidade em sua cadeia de produção. “Era de se esperar que isso teria um impacto sobre o desmatamento. Mas a taxa de devastação está aumentando, então as políticas não têm efeito prático”, disse Greg Higgs, em entrevista ao jornal The Guardian.

Para mudar esta realidade, a Stand.Earth elaborou uma carta, que você também pode assinar, exigindo que essas empresas se comprometam a agir de maneira responsável, ao:

  1. Parar de comprar couro de fornecedores que não podem comprovar a rastreabilidade total até a fazenda de nascimento do gado;
  2. Apoiar a legislação que exige que a indústria pecuária forneça rastreabilidade total;
  3. Fazer um compromisso público para eliminar todo o desmatamento de seus produtos. Comunicar e fazer cumprir essas políticas com fornecedores, indústria, governo e o público em geral.

Em 2019, quando os incêndios florestais da Amazônia tomaram as manchetes internacionais, diversas marcas globais suspenderam temporariamente a compra de couro brasileiro. Mas parece que a ação de nada adiantou. Só mesmo quando os consumidores pararem de comprar e essas empresas começarem a ver seus negócios impactados é possível que algo mude.

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Fotos montagem: reprodução relatório Stand. Earth (desmatamento) e pixabay/domínio público (bolsa)

Um comentário em “Marcas da moda, como Zara, Prada e Nike, são coniventes com desmatamento da Amazônia brasileira, denuncia organização internacional

  • 3 de dezembro de 2021 em 9:58 PM
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    É lamentável que não tenhamos consciência do quanto é importante preservarmos o pouco que ainda nos resta, precisa ser muito ignorante e egoísta a ponte de vender-se dessa forma.

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Suzana Camargo

Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.