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O tempo que leva

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Quanto tempo leva para fazer uma foto? Essa é uma daquelas perguntas para a qual a resposta sempre vai ser: depende. A criação fotográfica passa por algumas etapas, como qualquer outro tipo de produção. Há planejamento, execução e, quando tudo vai bem, segue o clímax da publicação.

A questão é que, em tempos de fotografia feita com celular, o procedimento todo pode durar apenas alguns segundos. No outro extremo, a publicação de uma imagem pode acontecer décadas após a primeira semente de inspiração ser plantada.

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Voltando um pouco ao tempo que precede os smartphones e redes sociais, corria o ano de 1992 quando o navegador Amyr Klink publicou seu livro Paratii: Entre Dois Pólos. Lembro que devorei em uns três dias a história do inverno passado na Antártica com a posterior viagem ao Ártico. E, como sempre tive interesse por fotografia, naveguei repetidamente pelas poucas imagens que o livro traz.

Mas minha atenção sempre acabava fixada nas três fotos feitas do alto do mastro do veleiro. Como desejei – mais do que ter feito aquelas fotos – ter meus olhos observando a paisagem Antártica de um ponto de vista tão privilegiado! Justo naquele momento, início de vida profissional, quando a falta de dinheiro tornava um desafio viajar até para o estado vizinho, nasceu em mim essa vontade tão improvável de ser saciada.

Dando continuidade à nossa viagem no tempo, numa tarde de meados de 2012 em que eu trabalhava no sossego de casa, recebi uma ligação do fotógrafo e amigo João Paulo Barbosa. Ele trazia a proposta de formar um grupo e organizar uma expedição de veleiro pela Península Antártica. Um turbilhão de ideias, vontades e receios inundaram instantaneamente a minha cabeça. Após alguns poucos minutos de responsabilidade e preocupação com minhas finanças, voltei à costumeira impulsividade e aceitei o convite.

E assim, pulando toda a história da fase de preparação e os chacoalhos e enjoos na travessia da Passagem de Drake, aconteceu: em janeiro de 2013, justamente no dia em que acordei na Baía Dorian (a mesma onde Amyr Klink invernou) e naveguei entre baleias pelo Estreito de Lemaire, estava eu finalmente pendurado no alto do mastro de um veleiro, observando a paisagem Antártica. Depois de alguns minutos, percebi que, lentamente, desviávamos de um pequeno iceberg. Por um segundo, o gelo flutuante se harmonizou com a embarcação em uma composição da qual gostei muito e, então, “click”: estava finalmente feita a foto cuja motivação – e também o planejamento – havia começado há mais de 20 anos.

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