O pinguim pegador de jacaré

A Talita, aluna minha da escola Câmera Criativa, foi quem nos deu a dica: um pinguim-de-magalhães tinha aparecido pela manhã no canal perto da casa dela. De acordo com pessoas que conhecem a Ilha de Florianópolis há mais tempo, não é exatamente uma ocorrência rara, já que pinguins frequentam a costa de Santa Catarina no inverno durante sua migração sazonal partindo da Patagônia.

Era perto do horário do almoço, em um dia agitado no escritório e com clima desfavorável. Porém, como eu nunca tinha fotografado um pinguim em vida livre, eu e Naíra, minha companheira e parceira de trabalho, decidimos tentar a sorte e ir dar uma conferida.

Câmera na mão, saímos de casa e minutos depois chegamos ao Canal da Barra, cuja água estava clara o suficiente para enxergar as pedras no fundo. Procuramos o pinguim sem sucesso e então resolvemos caminhar até a praia, onde finalmente encontramos o bichinho se divertindo sem parar nas ondas do mar.

Logo percebi que seria uma daquelas sessões de fotos desafiadoras, já que a ave apresentava movimentos erráticos, mergulhando rapidamente com um padrão de deslocamento imprevisível. Analisei seu comportamento e notei que, de vez em quando, ele mergulhava na crista de uma onda, como se estivesse tentando “pegar jacaré”, uma brincadeira comum no nosso litoral. Percebi que aí poderia estar a foto mais interessante do dia, além dos registros normais do pinguim na superfície da água, inclusive aproveitando o fato de que – apesar do céu fechado e cinzento – a água do mar estava bem transparente.

Tivemos que ficar indo e voltando a pé pela praia várias vezes, acompanhando seu vai e vem, às vezes mais perto da areia, às vezes bem longe, para cima e para baixo, para a esquerda e para a direita. Observar a cena por uma lente teleobjetiva torna a coisa ainda mais complicada, já que o ângulo de visão é muito limitado e a gente ainda precisava cuidar para, concentrados no assunto e distraídos com o restante, não deixar as ondas da maré que subia nos atingirem.

Depois de várias tentativas, fiz esta imagem parecida com o que tinha imaginado no início. Mesmo que não tivesse conseguido fotografar, a simples oportunidade de observar um animal novo é sempre muito gratificante. Voltamos para casa satisfeitos com o resultado, mas eu não imaginava que, três dias depois, teria uma surpresa!

Lendo as notícias durante o final de semana frio e chuvoso, de repente apareceu no meu feed uma foto semelhante à que eu tinha feito. De autoria de Levi Fitze, um jovem e talentoso fotógrafo suíço, ela havia sido premiada dias antes no concurso anual da Sociedade Alemã de Fotografia de Natureza. A bela imagem retrata um pinguim-gentoo mergulhando nas águas cristalinas das Ilhas Malvinas (confira aqui).

A agradável notícia me fez refletir sobre a fotografia como linguagem universal e criadora de conexões que extrapolam o visual, como o estímulo à conservação da biodiversidade. Fiquei feliz também em saber que, em tempos de IAs e afins, tem pessoas das novas gerações (Fitze tem 20 anos de idade) se dedicando a registrar tão bem nosso belo e ameaçado patrimônio natural.

Por fim, sua imagem inspiradora é um estímulo para voltarmos à Barra da Lagoa com um clima mais propício e tentar novamente fazer flagrantes melhores do nosso querido pinguim pegador de jacaré!

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Foto: Daniel de Granville