Quem me lê aqui, no Conexão Planeta, sabe que os temas que me mobilizam nos últimos tempos são a economia solidária e os chamados negócios de impacto, que, além do lucro, visam criar soluções para problemas em diversas áreas e gerar impactos sociais e/ou ambientais positivos em sua atuação.
Nos últimos três anos, tenho estado imersa nesse ambiente de negócios de impacto da Amazônia. Conhecido pessoas e histórias incríveis, que me revelam outros mundos. Outra economia possível, outros modos de estar e produzir, que, em grande parte, valorizam saberes de populações amazônicas indígenas, ribeirinhas e quilombolas.
As minhas fronteiras de interesse por esses arranjos que pensam a economia de uma outra forma são bastante flexíveis, e me levam tanto a negócios de impacto quanto a empreendimentos solidários.
Muitas vezes negócios de impacto e empreendimentos solidários – cooperativas e associações – são parceiros no estabelecimento de cadeias produtivas da floresta, em itens como castanhas, açaí, sementes, guaraná etc.
Esses arranjos, que são cada vez mais inovadores, juntos compõem um mosaico, uma miríade de iniciativas que, se colocadas lado a lado, geram muito impacto positivo para pessoas e para o ambiente.
Na Amazônia, já conheço, direta ou indiretamente, quase uma centena de iniciativas. E mais de perto, 36 delas. São negócios que potencializam saberes por meio de sabores da floresta, trazendo a Amazônia para mais perto dos brasileiros ao facilitar acesso a ingredientes e produtos únicos da região. Popularizam ingredientes regionais envolvendo chefs de cozinha.
Que proporcionam o acesso à riqueza da moda e artesanato de povos indígenas. Ainda, há aqueles que buscam nos despertar para a riqueza da floresta e de seus povos por meio do turismo de base comunitária.
Outros estimulam a conservação da Amazônia por meio de agroflorestas e silvicultura. Produzem café orgânico na floresta. Fazem a conexão entre pequenos produtores orgânicos e consumidores. Trazem soluções logísticas e de transporte para escoar a produção das comunidades.
Produzem chocolates com cacau nativo comprado de pequenos produtores rurais. Resgatam a borracha histórica amazônica em produtos singulares e inovadores.
A lista é longa, e dá uma vaga ideia da transformação possível e do impacto gerado.
O fato é que a riqueza desses arranjos envolve uma rede de parcerias capaz de encontrar soluções para desafios, os mais variados possíveis, para que esses negócios consigam se manter de pé e prosperar.
Falo aqui de organizações da sociedade civil e aceleradoras que apoiam esses negócios, mas também de investidores, de filantropia, empresas, comunidades locais, empreendedores com mentalidade mais sustentável para a região, enfim. De uma rede em que arranjos de diferentes naturezas podem ser criados para resolver desafios e apoiar cada vez mais esses negócios.
Quando esses empreendedores e empreendedoras começam a criar relações de troca e até mesmo parcerias de mercado entre si, descobrindo sinergias e aspirações em comum, é mágico o que acontece. Uma marca apoiando a outra em seu e-commerce, gerando produtos e parcerias que agregam cada vez mais valor ao impacto positivo que geram nas comunidades e na floresta.
Amazônia em casa
A potência dessa rede pode ser vista no movimento ‘Amazônia em casa Floresta em pé‘, por exemplo, sobre o qual escrevi aqui, no Conexão Planeta.
A iniciativa, do Idesam, AMAZ aceleradora de impacto e Climate Ventures, conta com apoio de muitas outras empresas e organizações, além de uma rede de parceiros que potencializa o impacto gerado por um grupo de marcas que conserva a floresta e gera renda para suas populações.
Junta, essa rede cria soluções e serviços, compartilha conhecimento, infraestrutura e estratégias em logística, comercialização, comunicação e mensuração de impacto para levar os produtos da floresta a todo o Brasil e a outros lugares do mundo, garantindo a manutenção da floresta em pé e a geração de emprego e renda para famílias e comunidades locais.
Até o dia 1/04, o movimento está com edital aberto para incorporar novos negócios à rede, oferecendo um programa de acesso a mercados para negócios amazônicos. Podem participar aqueles que já comercializam produtos da sociobiodiversidade e que tenham como missão gerar impacto positivo na Amazônia.
Entre os benefícios oferecidos aos negócios selecionados estão: divulgação das marcas e produtos em campanhas e participação em feiras; assessoria individualizada em estratégia comercial e operações logísticas; acesso à plataforma de e-commerce, subsídios para serviços de representação comercial, armazenagem e logística e conexão com parceiros.
Assim, em rede, esses negócios de impacto se fortalecem e demonstram a potência de transformação que carregam em si. São negócios que trazem a inovação ao mesmo tempo em que valorizam saberes tradicionais. E, assim, deixam entrever o que pode ser o futuro, plantando hoje a economia amazônica mais virtuosa do amanhã.
Foto: Rodrigo Kugnharski/Unsplash