
*Atualização em 14/01/25
Ao publicar essa reportagem ontem, 13/01, o Conexão Planeta entrou em contato com as assessorias de imprensa do ICMBio e do Ibama, perguntando se a parceria entre o Ministério do Meio Ambiente e a ACTP, rescindida em 2023, havia sido retomada. Por e-mail, o Ibama respondeu “Sim, a parceria foi retomada.”
Hoje, às 16h54, o Conexão Planeta recebeu um e-mail da área de comunicação do ICMBio afirmando que o acordo de cooperação técnica não foi restabelecido, apenas a transferência das 41 ararinhas-azuis foi aprovada.
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No próximo dia 24 de janeiro, mais 41 ararinhas-azuis (Cyanopsitta spixii) estão com chegada prevista ao Brasil, vindas da Alemanha, para integrar o programa de reprodução em cativeiro e reintrodução da espécie no Refúgio de Vida Silvestre, em Curaçá, na Bahia. As aves, originárias da Association for the Conservation of Threatened Parrots (ACTP), embarcarão em um voo direto de Berlim com destino ao aeroporto de Petrolina, em Pernambuco, e de lá seguirão por terra para Curaçá.
Segundo o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), a chegada das ararinhas, coordenada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), tem como objetivo a realização de uma próxima soltura, programada para meados de 2025.
Depois de mais de duas décadas extintas na natureza, em junho de 2022, oito ararinhas-azuis voltaram a ser vistas voando livres pelos céus da Caatinga baiana. A reintrodução era fruto de um plano traçado há anos, envolvendo diferentes governos, e tendo como parceira principal a ACTP, um criadouro particular alemão de aves, que possuía o maior plantel de Cyanopsitta spixii do mundo – parte delas tinha sido importada de um colecionador de aves do Catar e as demais eram fruto dos excelentes resultados obtidos com a reprodução da espécie em cativeiro.
Graças à parceria entre governo do Brasil e ACTP, em março de 2020, as primeiras 52 ararinhas-azuis desembarcaram no país. Por causa da pandemia da covid-19, a primeira soltura foi adiada e só ocorreu dois anos depois. Desde então, 20 indivíduos foram reintroduzidos e dez deles estão bem e continuam sendo monitorados na natureza. Entre os demais, alguns desapareceram, outros foram mortos por predadores e um precisou voltar ao aviário por questões de comportamento.
Das ararinhas que foram soltas, já houve o registro de nascimentos de filhotes em vida livre duas vezes: em março de 2024, e mais recentemente, há poucas semanas, quando a ACTP divulgou a chegada de dois filhotinhos, com a eclosão dos ovos no final de dezembro (leia mais aqui).
Espécie endêmica do Brasil, ou seja, ela só existe na natureza em nosso país, a ararinha-azul foi vítima do tráfico ilegal de aves e a cobiça de grandes colecionadores europeus. Fascinados pelo sua beleza e azul vibrante, eles não economizaram esforços (e muito dinheiro) para poder ter um exemplar da famosa arara brasileira.
Com isso, a espécie acabou sendo declarada oficialmente extinta no país nos anos 2000.

Foto: divulgação ACTP
Fim da parceria com a ACTP
Em maio de 2023, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) anunciou que o Brasil não iria renovar o acordo mantido ao longo de cinco anos com a ACTP.
Além de várias denúncias e polêmicas internacionais sobre a idoneidade de Martin Guth, proprietário da associação, o ICMBio e o Ibama foram pegos de surpresa ao serem alertados sobre o envio pelo criador de 30 araras brasileiras – 24 ararinhas-azuis e quatro araras-azuis-de-lear (Anodorhynchus leari), também endêmica e ameaçada de extinção -, para um zoológico da Índia, sem conhecimento ou autorização do governo brasileiro (entenda o caso aqui).
Na época da rescisão da parceria, entretanto, o ICMBIO afirmou que a ACTP seguiria atuando no centro da Bahia – que foi construído e é mantido com dinheiro do criador alemão – e as aves e as instalações de Curaçá continuariam sob responsabilidade da associação. “E por parte do ICMBio não há nenhum impedimento de que continue com a reintrodução da espécie na natureza”, completou o órgão.
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Foto de abertura: divulgação ACTP/ICMBio
Excelente