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Infância: tempo de explorar, experimentar e sentir o mundo

“Mas o que tem que fazer aqui?” perguntou o menino que aparentava ter entre 4 e 5 anos. “O que você quiser fazer”, respondeu Ana Carol, uma das autoras deste blog.

Foi em uma das oficinas que promovemos chamada Ser Bebê é Natural, em que os bebês ficam à vontade no meio da natureza. Nossa proposta é disponibilizar materiais naturais para os pequenos de até 2 anos explorarem livremente. Não dizemos a eles o que fazer. Organizamos o espaço com algumas provocações sobre os materiais e os bebês seguem livremente a brincadeira de acordo com suas percepções e pesquisas. A oficina é para os muito pequenos, mas, eventualmente crianças mais velhas se aproximam e pedem para brincar também.

Voltando ao dialogo entre o garoto e Ana Carol… ele insistiu: “mas e esse aqui? (segurando uma casca de coco), eu faço o que, com isso?”. Ana Carol respondeu novamente:  “o que você quiser”. No entanto, parecia que o menino não sabia o que aquilo significava. A pergunta se repetiu enquanto ele apontava para outros elementos e espaços. E o “o que você quiser”, de fato, parecia não ter sentido e significado para ele.

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Foi, então, que Ana Carol decidiu mudar a fala e adicionar ao “o que você quiser“ um repertório de ações que as crianças que passaram por ali realizaram. Aí o menino começou a experimentar tais ideias.

E essa experiência nos fez refletir sobre os condicionamentos que cada vez mais estamos todos submetidos. É notável que a infância vivida hoje tem uma grande quantidade de horas destinada a atividades dirigidas. Sempre tem alguém dizendo o que a criança deve fazer, planejando, organizando, orientando. Se o adulto não diz, o próprio brinquedo “diz”: eu só cuido da bebê doente, só faço meu super herói pular de paraquedas, só faço uma comidinha se os  brinquedos vem de fábrica com os acessórios para isso.

Mas os bebês, espontaneamente, experimentam o mundo sem esperar que ninguém diga o que eles têm que fazer. Eles se aproximam, observam, tocam, testam possibilidades, observam o entorno e podem trazer para sua brincadeira ações que outras pessoas fazem ao redor.

Quando estamos próximas a crianças maiores, que têm tempo livre e o “brincar livre” garantidos, observamos o quanto suas pesquisa sobre o mundo se aproximam das pesquisas dos bebês: são ricas em observações e em aprendizado espontâneo, com o adicional do mundo simbólico que passam a explorar e integrar.

Além de encontrar funções e possibilidades novas em cada elemento, as crianças as relacionam com algo para entrar no “faz de conta” da brincadeira. Uma folha sobre um pedaço de tronco, com um punhado de lama em cima é um delicioso jantar. Um graveto se transforma numa varinha mágica, numa chave para abrir uma porta secreta, ou numa vara de pescar. São brincadeiras que ficam a meio caminho entre a imitação da realidade observada e a imaginação, numa integração profunda entre o mundo natural e o humano, que, como acreditamos, são a mesma coisa e não devem ser dissociados.

Sem essa base de experimentação na infância corremos o risco de crescer incapazes de observar o mundo com os próprios olhos e de interpretá-lo de acordo com o próprio senso de verdade. Corremos o risco de ser facilmente manipulados…

As crianças precisam explorar, experimentar e sentir o mundo desde o nascimento. Nós, humanos, somos seres que aprendem, sem parar. Já nascemos sabendo como aprender, isso nos é inato. Os adultos podem estar próximos, brincar perto ou simplesmente se prestar a observar. Não precisamos dirigir as crianças o tempo todo, pois, assim, bloqueamos seu movimento natural de buscar o que aprender e construir e consolidar esse aprendizado por meio da brincadeira, da imaginação, da integração incessante do mundo que acaba de descobrir ao que já era conhecido. Transformando-o sem cessar. Tal como a planta, a floresta, toda a natureza. Porque essa é a nossa natureza.

Foto: Ana Carol Thomé

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