
A Bahia é um território ativo de produção de cacau e chocolate, juntamente com o Pará. O estado tem cerca de 45 mil produtores do fruto, dos quais aproximadamente 70% usam o sistema cabruca, plantando cacau sob a sombra de outras árvores, em meio à floresta. O que contribui para conversar a Mata Atlântica.
É grande também o número de cooperativas que atuam na região com a cultura do cacau.
Na última semana, o município de Ilhéus, no litoral sul baiano, ganhou uma fábrica de chocolates da economia solidária, a ChocoSol. O objetivo é beneficiar o cacau produzido na região e proporcionar assistência a empreendimentos econômicos solidários na qualificação do chocolate da região e na geração de renda.
A fábrica, que contou com investimento de R$ 523 mil da Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte da Bahia (Setre), é gerida pela Associação Beneficente Josué de Castro (ABJC), por meio do Centro Público de Economia Solidária (Cesol) Litoral Sul.
“Completamos a cadeia da assistência socioprodutiva desde o plantio até o beneficiamento com o fabrico dos chocolates. Será um espaço [a fábrica] para os empreendimentos aprenderem boas práticas de produção e agregarem valor aos chocolates”, avalia Diego Felisardo, presidente da ABJC.
Segundo o Cesol Litoral Sul, cerca de 300 famílias produtoras de cacau que atuam na economia solidária serão beneficiadas pelo ChocoSol, que tem sede no Campus da Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc).

A fábrica tem capacidade de produção de até 1,2 tonelada de chocolate. A estrutura tem 300 m² e conta com 10 máquinas em operação e uma câmara fria. No futuro, os planos são ampliar a operação para contemplar outros territórios da Bahia, como Baixo Sul, Extremo Sul, Costa do Descobrimento e Médio Rio de Contas.
“A ChocoSol representa um avanço na política pública de economia solidária no momento em que aponta para o caminho da criação de uma espécie de “arranjo produtivo territorial solidário”, pois se constitui em um moderno equipamento disponibilizado para a aprendizagem, inovação de processos, pesquisa e produção social a serviço dos empreendimentos solidários da cadeia do chocolate”, avalia o superintendente estadual de Economia Solidária da Setre, Wenceslau Júnior.
O cacau e a economia solidária na região
Pesquisando sobre economia solidária na região onde se localiza Ilhéus – conhecida como Território Litoral Sul da Bahia (TLS) e composta por 26 municípios -, descobri que ela se desenvolveu a partir dos anos 1980, em especial a partir da praga Vassoura da Bruxa, que devastou os cacauais no território.
Segundo levantamento realizado por Dayvid Souza, em dissertação apresentada à UFBA (Universidade Federal da Bahia), em 2019, houve um crescimento da área plantada de cacau por empreendedores familiares entre 2012 e 2016, saindo de 63 mil hectares para 122 mil hectares.
Esse crescimento está relacionado à Reforma Agrária no TLS, constituída, segundo levantamento efetuado por ele, por cerca de 69 assentamentos com aproximadamente 145 mil hectares. O estudo aponta a existência de 147 empresas econômicas solidárias no TLS.
Essa vitalidade pode ser vista, por exemplo, no minidocumentário realizado por Patricia Moll e Fellipe Abreu, que conta a história do pré-assentamento Dois Riachões.
Por meio da Reforma Agrária, do resgate do plantio em agrofloresta e capacitações em agroecologia, hoje, seus cerca de 150 moradores plantam alimentos para subsistência e produzem amêndoas de cacau de qualidade.
Bahia tem política pública de economia solidária forte
Empreendedores e empreendedoras da economia solidária baiana são assistidos por 15 Cesols, localizados nas cidades de Salvador, Porto Seguro, Lauro de Freitas, Vitória da Conquista, Pintadas, Serrinha, Senhor do Bonfim, Piatã, Pintadas, Nilo Pessanha, Monte Santo, Juazeiro, Irecê, Itabuna, Guanambi, Valença e Cruz das Almas.
A Superintendência de Economia Solidária (Sesol), vinculada à Secretaria do Trabalho, gerencia o Programa Bahia Solidária, que constitui o primeiro passo para consolidar uma política pública no estado.
Por meio dos Centros Públicos de Economia Solidária, o programa tem desencadeado ações voltadas a fortalecer os empreendimentos já existentes na Bahia (a Sesol informa já ter mapeado mais de 1.600) e a estimular a criação de outros.
Esses Centros são criados e mantidos por meio de parcerias entre o poder público e a sociedade civil organizada, e reúnem diversas ações de formação, assistência técnica, divulgação, comercialização, acesso a crédito, expressão cultural e articulação sociopolítica do movimento da economia solidária.
Buscam fornecer condições para o desenvolvimento territorial e estimulam a ampla participação da sociedade.
Leia mais sobre economia solidária na Bahia:
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Edição: Mônica Nunes
Foto (destaque): Pablo Merchan Montes/Unsplash