Quatorze das maiores empresas do setor agropecuário do mundo anunciaram na segunda-feira (07/11), na Conferência Internacional sobre Mudanças Climáticas (COP27), em Sharm el-Sheikh, no Egito, um plano de redução de emissões de carbono decorrente do uso da terra em suas operações. Batizado de “O Roteiro do Setor Agrícola 1,5°C”, em referência a limitar o aumento do aquecimento da Terra a essa temperatura até o final deste século, prevê a eliminação do desmatamento ilegal de suas cadeias até 2025 em todos os biomas brasileiros.
O compromisso elaborado com a ajuda da organização Tropical Forest Alliance foi assinado pelas companhias ADM, Amaggi, Bunge, Cargill, Cofco International, Golden Agri-Resources, JBS S.A, Louis Dreyfus Company B.V, Marfrig, Olam International, Viterra e Wilmar Internacional.
O roteiro prioriza os biomas Amazônia e Cerrado e também, o Chaco, florestas encontradas na divisa entre Brasil, Argentina, Paraguai e Bolívia. No caso das plantações de soja, as empresas só concluirão uma análise total de risco no ano que vem.
A brasileira JBS, maior produtora mundial de carne, com um faturamento anual de US$ 50 bilhões, tem sido constantemente acusada de ser cúmplice do desmatamento no Brasil. No ano passado, oito das maiores redes de supermercados da Europa afirmaram que não iriam mais comprar os produtos da empresa. Um ano antes, milhares de britânicos já tinham assinado uma petição pelo boicote da carne da JBS (leia mais aqui).
Apesar da promessa feita ontem pelas multinacionais do setor de alimentos, organizações não-governamentais da área ambiental criticam o conteúdo do documento e o prazo estipulado. Em contra-partida, essas entidades lançaram então o “Manifesto para o fim imediato do desmatamento para o nosso futuro de 1,5ºC”.
Segundo as ONGs, entre elas , dentre elas o WWF-Brasil, o Observatório do Clima, a Rede Cerrado, a Coalizão Ciência e Sociedade, Instituto Mamirauá, Rede de Cooperação Amazônica, Proteção Animal Mundial e a Rainforest Foundation Norway, o sistema alimentar mundial contribui para ao menos um terço do total líquido das emissões globais de gases de efeito estufa. Mas isso precisaria ser reduzido em mais de 80% até 2050 para que haja a mínima possibilidade de limitarmos o aumento da temperatura da superfície terrestre a 1,5oC até 2100.
“Commodities de risco para ecossistemas comercializadas mundialmente, tais como soja, carne, couro, óleo de palma, cacau e borracha, são de longe as que mais contribuem para essas emissões através do desmatamento e da destruição dos ecossistemas. Enquanto o nosso planeta está a caminho de um futuro apocalíptico de 2,5°C de aquecimento global, algumas poucas empresas transnacionais têm uma imensa responsabilidade de decidir e influenciar substancialmente o destino de toda a humanidade, para melhor ou muito pior”, diz o texto do manifesto.
E de acordo com essas organizações, para que a diminuição das emissões globais desse segmento seja suficiente para alcançar a meta de 1,5°C, o desmatamento deve ser imediatamente eliminado das cadeias de commodities.
“Este roteiro apresenta alguns avanços, pois as empresas estão finalmente reconhecendo que precisam eliminar a destruição de ecossistemas das cadeias de suprimentos. No entanto, ainda é frustrante que ecossistemas como o Cerrado não sejam considerados de forma completa e consistente nos compromissos apresentados dos setores de soja e pecuária”, afirma Mauricio Voivodic, diretor executivo do WWF-Brasil.
Para ele, a ausência de uma data de corte clara e de metas para eliminar a conversão da cadeia produtiva da soja trava o setor em uma trajetória de altas emissões de carbono e perda contínua de emissões de carbono. “A ciência demonstra que o desmatamento e a conversão devem ser eliminados urgentemente das cadeias de suprimentos de commodities para diminuir suficientemente as emissões globais de GEE e atingir a meta de 1,5ºC”, reforça.
*Com informações do WWF-Brasil
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Foto de abertura: Instituto Homem Pantaneiro