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Crescendo nessa Babel ou tentando…

Babel de concreto

São verdadeiras artistas da mistura do material essas metidas. Esculpem-se na alquimia da necessidade. E tentam simbiose com o metal, o tijolo, o concreto.

Formam-se abrindo espaço onde não existe. Só não vou aqui contradizer a ciência (ando com isso na cabeça ultimamente), dizendo que são dois corpos ocupando o mesmo lugar.

Mas que é quase, é. Não é uma obra de resistência petulante ir abrindo espaço assim sem ser chamada? Fala verdade. Para, gente! Não é isso não.

Babel de concreto

É que em verdade, em verdade, eu vos digo: elas já explodiam aqui praticamente desde o Big Bang. Tá, um tempo depois.

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Aí foram perdendo terra, serra e aí tem que virar fera mesmo. E conquistar na unha. Abrir caminho sua, mas elas estão aí.

Crescendo no concreto. Tentando.

E o fotógrafo, câmera e diretor de fotografia Paulo Mathias viu e resolveu ir fazendo no seu cotidiano nada distraído esse registro delicado e metafórico da demonstração da força da natureza.

Diz para mim. Quem é que nasce assim sem substrato? Quem é que vive assim livre sem terra?

babel de concreto

Não digo que é sem apoio, chão, parede, teto. O suporte é qualquer lugar. E isso é que é o admiravelmente lindo, soberbo, maravilhoso.

Uma chaminé escura, uma vida dura. E manda adjetivo para celebrar a quebra da rigidez, impondo – desse jeito que só pode ser rude, mas que parece ser de mansinho -, seu movimento em busca de nascimento e luz.

O mais irônico é essa árvore que nasceu na sacada de um prédio histórico do início do século XX, situado no centro de Curitiba, na Rua Barão do Rio Branco. O prédio está cada vez mais destruído. Há dois anos foi anunciada uma reforma, mas até agora nada.

Aí, quando a reforma começar, provavelmente, a árvore, hoje o único sinal de vida do local, a única que aguentou a solidão em meio ao abandono e destruição, será arrancada. Ou, terá algum arquiteto responsável que resolva corajosamente deixá-la como sinal de resistência? Ou talvez seja mais humano transplantá-la para algum lugar em que ela perca a vista da sacada, mas ganhe terra para espraiar raiz. 

Crescendo na sacada. Tentando.

Outra ironia da vida, o que falta para elas que tanto precisam, sobra na escultura da queniana Wangechi Mutu (Taí o link porque você precisa ver mais trabalhos dela).

Barro. Lama. Ou quem sabe elas agora se complementem, natureza e arte, quando encontram poesia…  E aprocheguem-se. Aconcheguem-se bem mais do que imaginamos.

Obra de Wangechi Mutu
Crescendo nessa Babel. Tentando… Foto: Divulgação

Natureza e mulher fotossintetizando divindade, crescendo-se, tornando-se. Mutuamente sendo. E aí – quando o respeito se dá de todos os lados,  olhando num vulto redondo, em 360°,  esculpe-se segurança ambiental e social, concretamente. Não há que sempre dar o passo para mostrar movimento como bem fizeram os nossos antepassados gregos na sua arte. Também não há que ficar plantados, com os pés paralelos como nas esculturas dos nossos antepassados egípcios.

Um apoiar nos calcanhares já é demonstração de fluxo, de seiva e sangue correndo nos veios e nas veias. A pele marca-se para localizar o indivíduo na sociedade. Bom para rever conceitos sobre o que é primitivo e selvagem.

O corpo é considerado lugar para perpetuar memória e a escarificação registra a civilização. É uma prática com base em princípios ancestrais de um grupo. Não é feita do nada. A pele como suporte para linguagem histórica. Dá uma olhada no canal da Luísa Karman para saber mais.

Crescendo entre a cruz e a espada. Tentando.

Fotos do trabalho sobre a resistência metafórica e concreta das plantas: Paulo Mathias.

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