Todos os anos, milhões de borboletas-monarcas (Danaus plexippus) fogem do frio do Canadá e migram para o clima mais ameno das florestas do México, passando antes pelos Estados Unidos em seu caminho. Elas voam cerca de 4 mil quilômetros até chegar, no início do inverno no Hemisfério Norte, em território mexicano, mais especificamente na Reserva de Piedra Herrada, no município de Michoacán. O local é considerado pela Unesco como Reserva da Biosfera da espécie.
De coloração brilhante, em que predomina o laranja, contornado pelo preto e vários pontos brancos, uma borboleta-monarca não pesa mais do que meia grama. Por sua rara beleza, é conhecida como a “rainha das borboletas”, daí a denominação monarca.
Mas no começo deste século, as monarcas começaram a desaparecer. Entre 2013 e 2014, os cientistas contabilizaram apenas 35 milhões delas na reserva de Piedra Herrada, um número baixo, se comparado ao 1 bilhão de meados dos anos 90. Um dos principais motivos para seu declínio é o uso de pesticidas. Em 2010, a organização internacional WWF listou a borboleta como uma das dez espécies do planeta mais ameaçadas.
Felizmente, graças a esforços de conservação, nos últimos anos levantamentos têm apontado que as monarcas aumentam seu número ano a ano. Em janeiro de 2022, a Xerces Society for Invertebrate Conservation divulgou que elas migram em quantidade recorde à costa oeste dos Estados Unidos, num crescimento de mais de 100 vezes ao registrado em 2020 (leia mais aqui).
Gráfico mostra o aumento nos números de monarcas nos últimos anos
(Fonte: Xerces Society)
Agora, mais uma vez, em tom otimista, a organização volta a comemorar os resultados obtidos com o monitoramento feito por centenas de voluntários em cerca de 270 locais da Califórnia e do Arizona, nos quais foram contabilizadas 335 mil borboletas, entre meados de novembro e a primeira semana de dezembro do ano passado.
A maior contagem de monarcas foi de 34.180 indivíduos no condado de Santa Bárbara, numa área que é de propriedade da organização The Nature Conservancy e não é aberta ao público.
“Todos nós podemos comemorar essa contagem. Um segundo ano consecutivo de números relativamente bons nos dá esperança de que ainda há tempo para agir para salvar a monarca”, afirma Emma Pelton, bióloga conservacionista da Xerces Society. “Dito isto, sabemos que ainda temos um longo caminho a percorrer para alcançar a recuperação da população e as tempestades [de inverno] que se seguiram significam que começaremos a primavera com muito, muito menos do que este total”.
A bióloga se refere às ondas brutais de frio que os Estados Unidos enfrentaram no final do ano, incluindo tempestades de neve e enchentes atípicas na Califórnia.
Ainda segundo Emma, ainda se está bem longe dos milhões de monarcas que migravam para o sul, todos os anos, nas décadas de 80 e 90.
“Tendo dois anos relativamente bons seguidos é tentador pensar que a taxa de mudança nas populações de monarcas pode ter mudado repentinamente de queda para crescimento. No entanto, esse tipo de mudança é difícil de detectar para insetos como monarcas, porque para borboletas – como muitos insetos – a taxa anual de mudança varia muito de ano para ano”, explica Elizabeth Crone, professora de Ecologia Quantitativa da Universidade da California – Davis. “Quando algo varia muito, demora um pouco para saber a tendência geral. Pense em dirigir por uma rodovia – se você vê dois semáforos verdes seguidos, você assume que eles são todos verdes e continua passando pelos próximos sem olhar?Provavelmente não”, diz ela.
Ao viajar por milhares de quilômetros, as monarcas têm papel vital na polinização da vegetação das regiões por onde passam. Com visão e olfato bem apurados, conseguem rapidamente detectar o néctar das flores
(Foto: Isis Howard/Xerces Society)
Em junho do ano passado, a Califórnia promulgou uma lei estabelecendo que animais invertebrados, incluindo insetos como abelhas e a borboleta monarca, foram inclusas em lista de espécies protegidas (saiba mais nesta outra reportagem).
A lagarta da borboleta-monarca: costa central da Califórnia abriga a maior quantidade da espécie, assim como área da baía de São Francisco
(Foto: U.S. Fish and Wildlife Service/Creative Commons/Rawpixel)
*Com informações e entrevistas da Xerces.org
Leia também:
A visita das borboletas monarcas no meu jardim
Enorme variedade de espécies de borboletas em Curitiba surpreende pesquisadores
Soltar borboletas em festa de casamento não é legal. Na verdade, é ilegal. É crime ambiental!
As borboletas do rio Juruena
Borboletas para saudar a primavera
Foto de abertura: U.S. Fish and Wildlife Service/Creative Commons/Rawpixel