Os números mais recentes do desmatamento da Amazônia divulgados pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) são devastadores, como o Conexão Planeta contou aqui: 13.235 km² de floresta perdidos entre agosto de 2020 e julho de 2021. Isso representa uma alta de 22% em relação ao período anterior.
O Pará é o estado com maior contribuição absoluta de desmatamento. Mas é de lá que vem uma iniciativa que, além de deliciosa, conserva a floresta e gera renda para a agricultura familiar, mostrando um caminho de desenvolvimento virtuoso para a Amazônia, que passa bem longe desses números.
A Cacauway, fábrica de chocolates localizada em Medicilândia, é a única da região gerenciada por uma cooperativa, a Coopatrans.
Fundada em 2009, a cooperativa começou a operar uma fábrica de chocolate no ano seguinte rompendo, assim, com o paradigma de ser apenas fornecedora de matéria-prima. Já escrevi sobre ela aqui, no Conexão Planeta.
Esta semana, Hélia Félix, engenheira agrônoma responsável pela produção do cacau e do processo industrial e integrante da cooperativa, ficou em segundo lugar no III Concurso Nacional de Qualidade de Cacau Especial do Brasil, promovido pelo Centro de Inovação do Cacau (CIC).
O centro é uma iniciativa do Parque Científico e Tecnológico do Sul da Bahia que faz análises variadas em amêndoas de cacau para ajudar no desenvolvimento do mercado, aproximando compradores de produtores de cacau de qualidade.
Este é o terceiro concurso promovido pelo CIC. Hélia ficou em segundo lugar na categoria blend (mistura de variedades de cacau), concorrendo com outros dez produtores.
“Esse prêmio é bem significativo para a nossa cooperativa e para mim, pessoalmente, como agricultora. Mostra que somos capazes de fazer amêndoas de qualidade, que o estado do Pará produz amêndoas de qualidade, e que existem agricultores e agricultoras dispostos a cultivar esse tipo de produto”.
Maior visibilidade com a premiação
O trabalho com as amêndoas de cacau segue um processo que tem início na colheita, selecionando os frutos em maturação ideal para o processo de fermentação. É Hélia quem descreve o processo: “O processo de fermentação tem que acontecer de forma intensa, a amêndoa, ao final dele, precisa me dar um grau de fermentação alto, que permita que eu faça um chocolate também com qualidade muito boa”.
E prossegue: “Esse mérito não é só meu, mas das pessoas da cooperativa, que trabalham juntas, incentivam umas às outras e querem fazer o melhor. Essa qualidade vem sendo expressiva a cada ano, e Medicilândia vem sendo reconhecida pela qualidade do cacau”.
O prêmio traz visibilidade no mercado para a Cacauway e aumenta o valor agregado do produto – tanto da amêndoa quanto do chocolate.
E os impactos positivos também saltam aos olhos. O cacau é cultivado por agricultores familiares cooperados no sistema agroflorestal (consórcio entre produção agrícola e floresta).
Cerca de três mil famílias cultivam hoje o cacau que abastece a Cacauway nesse sistema agroflorestal, junto com outras culturas agrícolas. O cacau é a fonte principal de renda para a maioria delas.
Além disso, a Cacauway emprega pessoas da região, sendo 11 colaboradores na fábrica e outros mais nas seis lojas distribuídas pelo Brasil, a maior parte delas localizada no estado do Pará.
“E nós não geramos resíduos na fabricação do chocolate, não utilizamos foto nem água. A água é usada apenas para limpeza do espaço e utensílios. O resíduo do cacau serve de adubação para as próprias lavouras e para canteiros de horta”, completa Hélia.
Para saber mais – também sobre a participação em feiras e outros eventos, além de pontos de venda e comercialização online -, acompanhe a página da Cacauway no Instagram.
Foto: acervo Cacauway