No final de maio, uma equipe do Ibama fechou um zoológico em Pernambuco e apreendeu 175 animais que sofriam maus-tratos. Na época, em nota, o órgão afirmou que o Instituto Pet Silvestre, proprietário do “Zoo Interativo de Porto de Galinhas”, já havia sido notificado anteriormente. Alguns animais estavam mutilados e outros passavam o dia inteiro presos em cordas, como a coruja acima.
Os proprietários receberam uma multa de R$ 300 mil, mas disseram, em entrevista ao Conexão Planeta, que nunca houve maus-tratos e que possuíam todas as licenças exigidas.
Entramos em contato com o Ibama para obter mais detalhes sobre a situação no local e a alegação dos proprietários de que a operação foi arbitrária. O que recebemos como resposta revela informações ainda mais chocantes sobre como o zoológico funcionava e os animais eram tratados.
Segundo o Ibama, nenhum dos recintos do zoológico atendia às especificações mínimas, conforme estabelecido pela legislação vigente. As dimensões e as condições desses ambientes são o que possibilita o mínimo de bem-estar aos animais cativos e isso não era cumprido.
Alguns animais que estavam no Pet Silvestre tinham sido encaminhados pelo próprio Ibama, mas para continuarem ali, o estabelecimento precisava obedecer as normas exigidas pelo licenciamento, que em 2022 exigiu adequações.
Na inspeção anterior, por exemplo, já havia sido identificado e exigido o tratamento de resíduos – o esgotamento da água do tanque dos jacarés vai direto e sem tratamento para a rua -, assim como a instalação de uma sala veterinária. “Nem álcool havia disponível no local. Exceto pela recepção, a sala que deveria ser ambulatório sequer possuía tomadas energizadas”, informaram os servidores que visitaram o zoológico.
Quando foi realizada a Operação Cage, em 28/05, “verificou-se que a situação do estabelecimento não condizia com as normas novamente. Constatou-se que o Zoo Pet se aproveitou de sua licença, recebia os animais, os explorava cobrando R$ 60,00 de ingresso, mas não dava a eles condição de vida digna. Ou seja, cinco meses depois e o Zoo Pet não se empenhou em propiciar as condições adequadas aos animais”, esclareceu o Ibama.
Ainda segundo a equipe de servidores que esteve no local, havia animais machucados, outros com deficiência nutricional, araras e corujas com asas amputadas.
“Duas corujas passavam o dia amarradas de forma a compor o cenário do Harry Potter, o que nada tem correlação com educação ambiental. As araras eram mantidas junto com urubus, o que fere a conduta usual de configurações de recintos em zoológicos”, relata o e-mail enviado pela assessoria de comunicação do Ibama ao Conexão Planeta. “As corujas eram submetidas à luz constante sem qualquer proteção de vegetação. Não havia área de fuga para os animais conforme determina a normativa específica. Já os répteis eram mantidos sem a iluminação natural ou iluminação artificial específica”.
Além disso, dos 190 animais que deveriam estar no zoológico, só foram encontrados os 175 apreendidos. Não se sabe o paradeiro dos demais.
E o descaso não era apenas com os bichos. Mas também com a saúde de funcionários e a segurança de todos, incluindo, dos visitantes. A cozinha dos animais era a mesma utilizada pelos empregados. Os extintores de incêndio estavam vencidos.
“Os zoológicos do Brasil são classificados em três categorias C, B e A, sendo a C a mais simples. As condições do local não permitem a classificação do Pet Silvestre nem como categoria C”, declara o Ibama.
Imagem de uma das aves apreendidas pelo Ibama
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Fotos: divulgação Ibama