Depois de meses com alta no desmatamento, a Amazônia apresentou uma redução de 70% na destruição da floresta em janeiro de 2021, em comparação ao mesmo mês do mês passado. A informação é do Ministério da Defesa, que se baseou em dados dos alertas de monitoramento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
De acordo com os números divulgados pelo órgão foram registrados 86 km2 de desmatamento no mês passado, contra 284 km2 em janeiro de 2020. Esse seria o menor índice para o período desde 2017.
Todavia, especialistas do setor alertam que, apesar da boa notícia, historicamente, a redução no desmatamento da Amazônia em janeiro ocorre devido à forte cobertura de nuvens de chuva nesta época do ano na região. E janeiro de 2021 foi mais chuvoso que o do ano anterior.
O Ministério da Defesa afirma que a diminuição da taxa de destruição se deve à atuação do governo através da Operação Verde Brasil, muito criticada por seu alto custo (leia mais aqui).
Na semana passada, o vice-presidente Hamilton Mourão, presidente do Conselho da Amazônia Legal, responsável pela operação, revelou que ela só irá até o final de abril e a partir daí, os esforços de combate ao desmatamento serão concentrados em apenas onze municípios, onde segundo ele, aconteriam 70% dos crimes ambientais.
A organização WWF-Brasil divulgou uma nota sobre a queda do desmatamento em janeiro:
“Caso essa tendência se confirme ao longo deste e dos próximos anos, o Brasil poderá comemorar, já que a Amazônia é um dos principais reguladores do regime de chuvas do país, do qual dependem tanto nossa segurança alimentar como a energética, e também um dos mais ricos polos globais de biodiversidade, ainda pouco conhecido…
Porém, como diz o ditado popular, uma andorinha só não faz verão. Janeiro é mês chuvoso na Amazônia e, por isso, um período de retração no desmatamento. Além disso, trata-se de um único mês de queda em meio a uma tendência de aumento do desmatamento de oito anos, com recordes consecutivos nos dois últimos anos.
Mais que o desmatamento mês a mês, precisamos olhar tudo que já foi desmatado. Em 2019 havia apenas 79,83% da cobertura florestal original do bioma amazônico, segundo dados do Mapbiomas. Como a ciência calcula que a partir de 20%-25% a floresta perderá sua capacidade de auto-regulação, isso significa que já estamos na zona de risco.
Nesse processo, perderemos uma riqueza biológica incalculável e colocaremos em risco os milhões de pessoas que têm na floresta a base de seu modo de vida. Também colocaremos em risco de colapso a produção agropecuária e o abastecimento dos reservatórios de água e de geração de hidroeletricidade de todo o país.
Todo e qualquer desmatamento que acontece agora é perigoso, imoral e nos aproxima da catástrofe. Por isso torcemos para que a queda registrada em janeiro de 2021 não seja um fato isolado e se repita nos próximos meses e anos até alcançarmos o desmatamento zero – que é o único feito digno de ser comemorado”.
2020 teve aumento recorde no desmatamento da Amazônia
Vale lembrar que em dezembro, a Amazônia teve aumento de 14% no desmatamento em dezembro e 2020 o segundo pior índice de destruição dos últimos cinco anos. E ainda, o mesmo Inpe que divulgou as boas novas de janeiro, terá corte de 15% no orçamento em 2021.
Também de acordo com o Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), um instituto nacional de pesquisa, sem fins lucrativos, composto por pesquisadores brasileiros, 2020 apresentou um recorde no desmatamento. Entre janeiro e dezembro do ano passado, a floresta perdeu 8.058 km² de área verde. É a maior perda dos últimos dez anos. Houve um aumento de 30% em comparação com 2019, quando foram derrubados 6.200 km².
No ranking dos estados que mais desmataram a Amazônia no ano passado, o Pará aparece em primeiro lugar (42%), seguido pelo Amazonas (17,2%), Mato Grosso (13,4%), Rondônia (12,9%), Acre (8.5%), Maranhão (2,9%), Roraima (2,5%) e, por último, Amapá (0,3%) e Tocantins (0,3%). Seis dos dez municípios responsáveis pelos mais altos índices de destruição estão localizados no Pará: Altamira (575 km²) e São Félix do Xingu (447 km²) encabeçam a lista.
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