Pediatras devem prescrever brincadeiras no lugar de remédios, recomenda Academia Americana de Pediatria

Pediatras devem prescrever brincadeiras no lugar de remédios, recomenda especialista

Nada de gotinhas, pomadas, xaropes ou antibióticos. A melhor dica que um pediatra pode dar aos pais de seus pacientes é: brinquem com eles todos os dias.

A recomendação está em artigo científico divulgado pela Academia Americana de Pediatria, que aconselha que, nos dois primeiros anos de vida, a brincadeira é a ferramenta mais importante para o desenvolvimento cognitivo, emocional, social e fonético.

Segundo o estudo, as crianças necessitam desenvolver uma variedade de habilidades para alavancar seu crescimento emocional e motor e aprender a administrar o chamado “estresse tóxico”. Pesquisam apontam que o desenvolvimento apropriado pode ser obtido através do brincar com pais e colegas.

O ato de brincar está longe de ser insignificante: ele estimula o aumento da estrutura cerebral e de suas funções e promove o processo do aprendizado, o que ajudará as crianças, no futuro, a atingir seus objetivos e ignorar distrações.

“A brincadeira é realmente essencial para a construção do cérebro“, afirma Michael Yogman, principal autor do estudo.

O brincar “ideal” deve envolver descobertas prazerosas. Deve ser divertido e espontâneo. E para isso, não há necessidade do uso de brinquedos caros, muito menos, eletrônicos. Pelo contrário, a sugestão é que os pequenos tenham em mãos objetos simples, como colheres de madeiras, blocos, bolas, quebra-cabeças, caixas e lápis de cor. “Muitas vezes, simples objetos permitem que a criatividade das crianças aflore ainda mais”, diz Yogman. “Elas devem escolher aquilo que as mais agrada e devem ser as protagonistas da brincadeira”.

O especialista destaca que o brincar com os filhos é uma ótima oportunidade para que os pais revivam as alegrias da própria infância e percebam sinais não-verbais que podem ajudar na convivência familiar.

Ainda segundo o artigo, a sobrecarga de atividades extra-curriculares, que muitas vezes começam ainda na primeira infância, resultam em uma redução das horas do brincar livre e seu consequente, aprendizado natural.

“As habilidades que as crianças obtêm através do brincar, comparadas com aquelas do currículo escolar nesta faixa etária, são tão – ou mais – importantes para o sucesso da vida futura”, ressalta. Entre essas habilidades estariam a colaboração, a resolução de problemas e o pensar criativo.

A Academia Americana de Pediatria aconselha que o descanso e o brincar devem ser essenciais na rotina diária de crianças com menos de dois anos. Por isso mesmo, a entidade elaborou um documento em que recomenda aos profissionais da área de pediatria que escrevam em suas prescrições “o brincar livre” e trabalhem junto a educadores para que o foco principal nesta idade seja a brincadeira, mais do que o aprendizado didático.

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Foto: Wendy Aros-Routman on Unsplash

2 comentários em “Pediatras devem prescrever brincadeiras no lugar de remédios, recomenda Academia Americana de Pediatria

  • 5 de setembro de 2018 em 3:37 PM
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    Partindo de uma Instituição especializada no tratamento de crianças, preocupante a recomendação, embora a gente entenda que brincadeiras geram fatores emocionais positivos nos pequenos, induzindo ao fortalecimento de sua imunidade como um todo. Porém nada que se pareça com a substituição de remédios por recreação, porque no momento atual não se conhece nenhuma outra condição efetiva de cura e/ou alívio que possa dispensar medicamentos substituindo-os por atividades recreativas, por mais prazerosas sejam, a não ser que a intenção tenha sido motivar pirralhos para atividades físicas ao ar livre no intuito de prevenir moléstias, aí sim, é válido. Porque se alguns pais sem noção resolverem seguir à risca o conselho médico em questão, rasgando receitas e recusando-se à comprar antibióticos, podem ter uma surpresa desagradável e triste, já que saúde infantil é coisa séria, não é brinquedo não.

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Suzana Camargo

Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.