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‘Ela é quente’: jornalista conta histórias de mulheres incríveis, engajadas pelo clima

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Já reparou como é raro ver mulheres representando países na ONU? E liderando negociações nas conferências pelo mundo, então? A diplomata costariquenha Christiana Figueres – que foi secretária executiva da Convenção Quadro das Naçoes Unidas sobre Mudanças do Clima de 2010 até junho deste ano e liderou o processo de negociação que levou ao Acordo de Paris – é uma das exceções desse cenário. Por outro lado, a maioria das organizações da sociedade civil, dos projetos independentes e coletivos são liderados por elas.

Foi o que a jornalista Evelyn Araripepaulista de Sorocaba, interior de São Paulo – constatou em suas andanças pelas conferências de desenvolvimento sustentável (Rio+20, em 2012) e de mudanças climáticas – em Qatar, Polônia e, a última, em Paris, em novembro/dezembro de 2015, quando participou de projetos de educação e comunicação com jovens.

E sua conclusão a respeito do domínio dos homens nesses processos ficou ainda mais latente quando definia o projeto de conclusão de curso na Alemanha – German Chancellor Fellowship for Tomorrow’s Leaders -, do qual é bolsista até este ano. “A princípio, pensei em produzir um livro sobre clima assunto do coração –, com metodologias para ajudar os professores a falarem sobre tema tão complexo para crianças e jovens”, conta Evelyn. “Mas percebi o quanto é difícil fazer um livro, além de não ter encontrado projetos inspiradores na Alemanha. É incrível, mas no Brasil a gente é muito mais criativo!”.

Desistiu do livro e se permitiu ficar um tempo “no limbo” para pensar, conversar com amigos, ler mais e se aprofundar. “Foi aí que despertei para esse incômodo, que sempre carreguei comigo: os espaços da ONU estão tomados por homens! E decidi chamar a atenção para isso”.

Foi, então, que criou o blog Ela é Quente para contar histórias de mulheres engajadas, envolvidas com o tema das mudanças climáticas direta ou indiretamente. “Minha ideia é inspirar pessoas de qualquer parte do planeta a partir da experiência dessas mulheres – porque seu olhar é muito especial – e mostrar que não é nenhum bicho de sete cabeças, mas está acontecendo agora, na vida de todos nós. Além disso, há muitas formas de se engajar”.

Mas porquê fazer isso por meio das mulheres? Evelyn explica: “Elas merecem visibilidade porque desenvolvem trabalhos dignos dos maiores holofotes e não têm espaço para isso. Além disso, são as principais vítimas dos eventos extremos, pois são as últimas a abandonar os locais para salvar a família. São as primeiras a sentir os efeitos das alterações do clima, que começa com a alimentação para prover sua família”.

E ela completa: “Desde que comecei a acompanhar esse tema, minha principal missão é encontrar caminhos para comunicar as mudanças climáticas de um jeito mais simples e que aproxime mais o assunto das pessoas (principalmente os jovens). Eu acredito que contar histórias de vidas aproxima as pessoas, faz elas se identificarem mais, terem mais empatia e, então, entenderem e se envolverem de alguma maneira. Por isso escolhi esse formato para contar histórias de vida. E, assim, reúno o útil ao agradável: falo do assunto de um jeito mais leve ao mesmo tempo em que dou mais espaço para as mulheres”.

Uma nova família

Evelyn coleta histórias em pesquisas pela internet, mas também recebe indicações dos amigos e de todos que sabem do seu projeto. Não há nada mais transformador do que conhecer pessoas como eu ou você que estão melhorando o mundo. “São todas muito inspiradoras e é um grande privilégio poder conversar com essas mulheres e aprender tanto com elas. A cada entrevista, saio renovada”, revela.

Uma de suas narrativas favoritas é da Juli Hirata, do projeto Extremos das Américas. “Ela está viajando de bicicleta do Alasca à Argentina e foi a primeira mulher que entrevistei. Eu divulguei meu projeto no Facebook e ela respondeu na hora. No mesmo dia, conversamos por Skype. Ela estava no começo da viagem, lá no Alasca. Contou que tinha uma vida bem confortável em São Paulo e jogou tudo para o alto para realizar o sonho de viajar pelo mundo. Como eu acompanho o tema do clima e adoro bicicleta, me identifiquei demais com sua história. Foi uma conversa cheia de aprendizados e inspiração”. Vale acompanhar a Juli pelo seu Facebook também.

Uma das histórias que residem no topo da lista das favoritas de Evelyn foi a primeira que ela escreveu, com um detalhe: não entrevistou a personagem. É sua mãe, Cleide Tavares de Oliveira Araripe. “Quis fazer uma surpresa pra ela”, conta. “Escrever sobre minha mãe foi uma maneira de eu entender a minha própria história. Quando enviei-lhe o link, ela chorou litros e não parava de me enviar áudios toda emocionada”.

Evelyn fez questão de contar uma belíssima história ainda não publicada no blog: a de Sarah Toumi, filha de tunisianos, criada na França, mas apaixonada por seu país. “Ela passava férias na Tunísia, quando percebeu que o deserto se alastrava pelo país e os agricultores perdiam suas terras e empobreciam. Em 2012, seu pai morreu e ela decidiu voltar para a Tunísia para ajudar os agricultores. Lá, planta acácias que, com suas raízes longas, consegue captar água e ajudar na irrigação do solo. Com esse projeto, ela está fazendo uma revolução no Magreb árabe”. Linda!

Não é à toa que ela se emociona a cada conversa e que, naturalmente, cada entrevistada se torna amiga ou, como a jornalista faz questão de destacar, faça parte de uma nova família que está sendo criada com o blog. “Outro dia, entrevistei uma garota dos Estados Unidos, Eileen Quigley, que trabalha em uma ONG ambientalista. Sua função é coordenar as reformas nos escritórios da instituição e garantir que eles sejam sustentáveis”, conta. “Durante a conversa com ela, lembrei que havia conversado também uma brasileira sobre construção civil sustentável, a Maria Fujihara. Comentei com ela, que prontamente se interessou em conhecê-la e me pediu para conectar as duas. Este mês, a Eileen vai ao Brasil e elas combinaram um encontro”. Evelyn finaliza: “Fico muito feliz de ver o blog conectando pessoas com causas tão parecidas”.

São as conexões que importam, por isso este trabalho da Evelyn é tão precioso e deve ser espalhado. Acompanhe o blog, que é atualizado duas vezes por semana e escrito em português, inglês e alemão. Mas a jornalista revela que tem como meta entrevistar 50 mulheres até o final do ano. E também que quer conhecer mulheres engajadas na Ásia e na África. Então, se você souber de alguém – que more nesses dois continentes ou outro qualquer – que tem uma história tão inspiradora quanto as que Evelyn contou aqui, é só escrever para ela.

Foto: Leandro Goddinho

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