Vem da região das cidades de Canudos, Uauá e Curaçá, na Bahia, o post de hoje. E tem um sabor muito bom: de lá saem deliciosas compotas, geleias e doces de Umbu, fruto azedinho colhido em umbuzeiros com mais de cem anos no sertão.
A história da Cooperativa de Agropecuária Familiar de Canudos, Uauá e Curaçá (Coopercuc), formada por mais de 200 cooperados, em sua maioria mulheres, começa em Uauá. A semente foi plantada no fim da década de 1980, a partir da interação de freiras da Igreja Católica junto às mulheres da região. Elas começaram a trabalhar com a comunidade a importância de sua participação na geração de renda e nas decisões políticas. Em fins dos anos 1990, mulheres das três cidades que antes se revezavam em tarefas de casa, cuidados com os animais e hortas de subsistência tiveram treinamento sobre beneficiamento de frutas. O passo seguinte foi esperar a safra de Umbu – que vai de dezembro a abril – pra começar a vender aquele monte de coisa gostosa.
Falando assim parece fácil, mas a trajetória é sempre complexa nesse tipo de iniciativa. Só em 2004 a Coopercuc foi formalizada, na época com 44 cooperados. No ano seguinte, foram criadas 15 mini fábricas nas comunidades e uma central em Uauá, possibilitando a ampliação do volume de doces produzidos pelos grupos.
Os produtos começaram a ser exportados para a França em 2005 e para a Áustria em 2008. A Itália também importa a produção, e Alemanha e a Espanha já consumiram as doçuras da cooperativa, que é certificada pelo selo FLO Fair Trade. A Coopercuc, que também tem certificação orgânica e é apoiada pelo movimento Slow Food, comercializa seus produtos sob a marca Gravetero.
Hoje, são 450 famílias atuando em 18 comunidades, envolvidas com a produção de 200 toneladas de doces cremosos, de corte, light, geleias, compostas, polpas e sucos. Uma rede de parceiros nacionais e internacionais vem possibilitando o crescimento e a estabilidade da cooperativa. Além do Umbu, que é o carro chefe, há produtos à base de goiaba, manga, maracujá e banana.
No Brasil, os produtos são comercializados na Bahia, em Minas Gerais, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Rio de Janeiro e São Paulo. Lojas do Supermercado Pão de Açúcar localizadas no Paraná, em Goiás, no Distrito Federal, no Rio e em São Paulo também disponibilizam os doces.
O cuidado com os umbuzeiros centenários está no coração do trabalho da Coopercuc. Os Umbus, ricos em vitamina C, são colhidos um a um, e as raízes da árvore são verdadeiros depósitos de água, fundamentais na resistência durante a Guerra de Canudos. Sua preservação é importante para a preservação da própria Caatinga, bioma brasileiro que sofre com a ameaça de desertificação. O trabalho da cooperativa promove o manejo adequado dos recursos naturais do semiárido e, ao mesmo tempo, gera trabalho e renda.
Desde 2008 são realizados os Festivais Regionais do Umbu, celebrando o potencial do fruto como fonte de renda e melhoria da qualidade e vida das famílias. A programação inclui oficinas, feira de economia solidária e agricultura familiar, exposições, concursos, atrações culturais, seminários, mesas redondas, degustações e umas série de outras atividades.
No site da cooperativa, encontrei também receitas de dar água na boca usando o Umbu como principal ingrediente, outras típicas da Caatinga e algumas de autoria de Neide Rigo. Tem bolinho, marshmallow, sorvete, biscoito, vinagre com geleia de Umbu e muitas outras gostosuras.
Agora quando você se deparar com os produtos da marca Gravetero, já sabe qual é a história por trás deles. Conheça um pouco do trabalho no vídeo abaixo:
Fotos: Coopercuc/Neide Rigo/DoDesign-s
Rapaz, essas histórias de cooperativas e comunidades que conseguem aliar a geração de renda com outras questões – conservação de biomas, melhoria de serviços básicos, acesso aos mercados, p ex – são sempre muito legais e motivadoras, né? parabéns pelo material, Monica!
Obrigada, Jorge. O que eu mais gosto é o quanto aprendo e descubro nesse caminho. Como tem iniciativa bacana de cooperativismo nesse Brasil, nossa!