Este já é um dado que está na ponta da língua: hoje, no Brasil, 70% do que chega ao nosso prato é produzido por pequenos e médios agricultores. A agricultura familiar tem um peso importante em nossa alimentação, mas esses produtores, em sua maioria, têm baixa renda, e muitos vivem em situação de vulnerabilidade social. Costumam ser o elo mais fraco na negociação e venda de sua produção.
Foi pensando nisso, em melhorar a qualidade de vida desses agricultores e abrir mercados para eles, que a neta de agricultor e engenheira ambiental Daiana Lerípio (na foto, ao centro), criou a Sumá, plataforma digital que conecta cooperativas e associações de agricultores a grandes empresas (hotéis, restaurantes e cozinhas industriais) que querem comprar alimento fresco em um sistema de comércio mais justo.
O sócio e marido de Diana, Alexandre Lerípio (na foto, ao centro), trabalhando em projetos relacionados à agricultura junto ao Sebrae, logo identificou uma das maiores dificuldades desses agricultores, que é acessar o mercado, quase sempre dependendo de intermediários e raramente obtendo preço justo por seus alimentos.
Durante o mestrado, Daiana estudou em profundidade os chamados negócios de impacto e, junto com Alexandre, logo desenvolveu a ideia do Sumá. Que, além de usar a tecnologia para aproximar agricultores e mercados mais justos e melhor remuneração para eles, tem como meta qualificar o produtor. A promover a melhoria da produção e da gestão das propriedades familiares, são oferecidas oficinas e visitas de qualificação para orientar os agricultores em cadastro de lotes, precificação, rastreabilidade, certificação, dentre outros pontos.
A Sumá atua em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, com uma base de 1.600 agricultores de dez cooperativas e cem compradores ligados à Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), Associação Brasileira da Industria de Hotéis (ABIH) e Associação Brasileira das Empresas de Refeições coletivas (Aberc). A maior parte das vendas são pedidos grandes com entregas escalonadas para todo o ano.
Os agricultores que integram a plataforma são classificados em orgânicos certificados, orgânicos sem certificação e convencionais. A partir de R$ 2 mil vendidos, eles pagam uma mensalidade de R$ 49,00. Já os compradores pagam 15% sobre o valor da transação. E mesmo assim a plataforma consegue entregar a eles um produto mais barato do que o sistema convencional, já que em muitos casos a margem cobrada sobre o preço pago ao agricultor é muito maior do que essa.
Sediado em Balneário Camboriú, em Santa Catarina, o negócio começou com o investimento de R$ 500 mil e em 2017 faturou R$ 68 mil. A expectativa para 2018 é de R$ 500 mil.
Primeira ideia: trabalho com escolas
Sumá é o nome da deusa tupi-guarani da agricultura. Conheci a iniciativa em uma das reuniões do Projeto Bota na Mesa, desenvolvido pelo Centro de Estudos em Sustentabilidade da FGV EAESP. Na ocasião, Daiana destacava as dificuldades iniciais, a importância de participar de um processo de aceleração com a Artemisia (organização que trabalha com disseminação e fomento de negócios de impacto social no Brasil) e a necessária resiliência no desenvolvimento do negócio.
O aplicativo Sumá inicialmente foi pensado para trabalhar com escolas públicas, levando em consideração que, por lei, 30% da verba federal voltada à aquisição de alimentos para merenda deve ser gasta com agricultura familiar. Mas o negócio não conseguiu se viabilizar, em parte pela complexidade que envolve as compras públicas.
Buscando outros públicos, logo a dupla percebeu o interesse de grandes empresas por produtos da agricultura familiar e a dificuldade que elas tinham em acessar fornecedores e obter os produtos com a regularidade e qualidade que precisavam. Foi aí que a plataforma Sumá se viabilizou. Mas eles não desistiram do comprador público. O fortalecimento com a venda para a iniciativa privada promoverá o fortalecimento necessário para retomar esse outro público, acalentado desde o início pelo projeto.
Foto: Divulgação/Sumá