Atualizado em 4/3/2024
Depois do mutirão de plantio pacífico realizado por moradores, parlamentares e ambientalistas no entorno do estádio do Mineirão, na Pampulha, no último sábado (2), a prefeitura de Belo Horizonte iniciou a semana com a motosserra em punho.
Na madrugada desta segunda-feira, 4/3, retomou o corte de árvores na região para as obras que tornarão possível a realização da prova de Stock Car, em agosto.
Por volta das 4h30, moradores e ambientalistas começaram a chegar para protestar e tentar evitar que a ação tivesse continuidade, mas de nada adiantou. Afinal, na última sexta-feira (1/3) à noite, o desembargador José Arthur de Carvalho Pereira Filho, do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, suspendeu a liminar que impedia a supressão das árvores (leia abaixo, no post publicado em 2/3).
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Mesmo sem confirmação de que a prova de Stock Car marcada para agosto deste ano será realizada em Belo Horizonte – de acordo com especialistas e ativistas, a licitação tem várias irregularidades -, a Justiça derrubou a liminar que impedida que a prefeitura desse prosseguimento ao corte de 63 árvores no entorno do Mineirão, no bairro da Pampulha.
A decisão foi proferida ontem, 1/3, às 23h19, pelo desembargador José Arthur de Carvalho Pereira Filho, presidente do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), que acatou recurso do município.
O magistrado aceitou o argumento de que a supressão das árvores foi autorizada pelo Conselho Municipal de Meio Ambiente (Comam) depois de impor série de medidas compensatórias aceitas pela prefeitura e a organizadora do eventos.
Ele se contentou com o plantio de dez vezes mais árvores do que as derrubadas, ignorando o impacto ambiental e climático de tal medida. Antes da publicação da decisão, o Ministério Público de Minas Gerais abriu investigação para investigar se a aprovação do Comam foi regular.
Vale destacar, ainda, que os ativistas ainda alegam falta de licenciamento ambiental e que a sociedade não foi sequer ouvida: a derrubada das árvores foi realizada um dia antes de audiência pública.
Nesse cenário, parece que a briga entre o prefeito Fuad Nonan – que lançou pré-candidatura à reeleição recentemente e parece ignorar a crise climática -, moradores, a UFMG e parlamentares deve se arrastar por algum tempo.
Ontem, a ambientalista e deputada federal Duda Salabert disse que foi ameaçado pelo prefeito que lhe disse que usaria as “forças policiais” para deter a realização de plantio simbólico, hoje,, 2/3, em frente ao Hospital Veterinário da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Mas isso não aconteceu; apenas um veículo da prefeitura acompanhou a manifestação.
Segundo a deputada estadual Bella Gonçalves, no mutirão para plantação de árvores no entorno do Mineirão – ao lado das deputadas federais mineiras Salabert e Célia Xakriabá -, “plantamos uma paineira que batizamos de Ngunzo, palavra que significa força”.
Sem diálogo
Como já contamos, Sandra Goulart, reitora da UFMG, declarou que foi informada da realização da corrida e das obras que seriam realizadas na região depois de tudo decidido entre prefeitura e organizadora.
Não houve consulta e o impacto, tanto das obras e do corte de árvores, como da prova (poluição sonora e do ar), será terrível para a instituição e os animais que vivem na região ou estão sendo cuidados pelo hospital veterinário.
Capital mais quente
No mesmo dia em que a prefeitura derrubou 12 árvores (como contamos aqui), o Cemaden – Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais divulgou estudo que aponta que Belo Horizonte foi a capital brasileira que mais esquentou no país em 2023.
A cidade chegou a registrar 4,2ºC acima da média, nos meses de novembro e dezembro de 2023. Em seguida, aparecem Brasília (4ºC) e Goiânia (3,6°C), capitais da região central do Brasil. De acordo com os cientistas, a causa foi o El Niño, combinado à crise climática.
Por meio de dados de satélite do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), foram analisados 5.700 municípios brasileiros e coletadas as temperaturas médias de cada mês de 2023. E cada resultado foi comparado com a média registrada para cada período.
E Salabert destaca: “Relembro que 90% da população brasileira está preocupada com os impactos das mudanças climáticas em suas vidas cotidianas, segundo dados de pesquisa DataFolha. E uma das formas de mitigarmos emissões de gases de efeito estufa é mantendo árvores adultas em pé, que geram maior conforto térmico às pessoas e animais.”.
O prefeito Fuad está totalmente na contramão da realidade e das necessidades urgentes da cidade em relação à crise climática mundial. Pra que uma prova de Stock Car, que ainda despejará quantidades absurdas de poluentes no ar no dia da corrida? Quem se beneficia com isso?
O desenvolvimento a qualquer custo não pode continuar imperando sobre a qualidade de vida. E se esse é o único foco do administrador – dinheiro -, Salabert lembra que há outras alternativas de locais para a realização do evento, que não prejudicariam a Pampulha, a cidade e seus moradores.
A deputada Bella Gonçalves reitera: “Não somos contra a StockCar, mas o evento não pode acontecer sem o devido licenciamento ambiental e sem diálogo com a população. Além disso, há vários outros lugares onde o empreendimento pode ser realizado sem gerar tantos impactos”. E lembra:
“Belo Horizonte sofre com a crise climática que atinge todos nós, mas especialmente quem vive nas periferias. É urgente defender uma cidade com mais respeito ao meio ambiente, à população e ao nosso futuro!”.
Veja, a seguir, como foi o plantio deste sábado:
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Foto (destaque): reprodução de vídeo de Duda Salabert/Instagram