Desde que cheguei na ecovila, em 2006, sempre que converso com um visitante, em algum momento ouço a pergunta: “dá para ganhar dinheiro morando aqui”? Nunca duvidei disso, embora esteja há anos testando maneiras de conseguir pagar minhas contas com trabalho feito na comunidade.
Uma vocação natural da ecovila é a de receber pessoas interessadas em conhecer o lugar, as casas construídas com técnicas de menor impacto ambiental, as tecnologias que usamos para economizar água e energia, e, claro, as histórias que acumulamos nesses anos de laboratório de vida mais sustentável.
O problema, de modo geral, é que é preciso ter tempo para empreender algo na ecovila, e, por isso, quem tem trabalho fora daqui acaba não conseguindo começar nada – e, não raras vezes, tem medo de trocar o salário garantido no fim do mês pela incerteza de uma experiência nova, que, como tudo na vida, pode não dar tão certo.
O resultado é uma rotina meio maluca, em que a tranquilidade da vida no campo dá lugar à correria insana de quem imagina que pode conciliar a horta do quintal, as refeições mais lentas e as galinhas com a vida agitada de um escritório na cidade. Acredite: por aqui, muita gente vive reclamando de cansaço, sono, dores no corpo, estresse. Pode?
No último domingo, completei (e comemorei) um ano – isso mesmo, 365 dias! – sem ir a São Paulo! Calma, não é horror à cidade grande. Para mim, é mais um sinal de maior independência e autonomia. Continuo com trabalhos esporádicos na capital, mas remotamente. Tenho me dedicado mais a organizar cursos aqui mesmo, nas áreas de bioconstrução, permacultura e música, minhas paixões.
Sempre que me disponho a promover um curso, procuro incluir o maior número possível de pessoas da comunidade. Gosto e acredito muito na ideia de criarmos aqui uma economia própria, próspera, do bem. Todos os eventos têm gente trabalhando na cozinha, na arrumação do espaço, na organização do conteúdo, na monitoria das crianças, na divulgação, fornecendo verduras orgânicas, nas oficinas temáticas etc. E todos ganham para isso, e ainda recebem uma boa injeção de ânimo e esperança.
Nossa criação mais recente tem um nome que eu adoro: SPA NA ROÇA . A ideia nasceu depois de muitas conversas entre moradores, que sonhavam em trabalhar aqui, com aquilo que realmente sabem fazer. Assim, decidimos reunir vários talentos e saberes num único evento. E, então, surgiu nosso spa alternativo, mais simples e menos pomposo do que os que se vê por aí, para emagrecer celebridades e socorrer dondocas estressadas das viagens a Miami.
Aqui, a ideia é curtir a natureza, um viver mais simples, entre amigos, e com alguns atendimentos terapêuticos que mantêm essa linha mais natural: massagens com óleos essenciais, máscaras de argila, acupuntura, quiropraxia, orientação de banhos de ervas, ofurô com água de nascente aquecida pelo sol, entre outros.
Quem trabalha no spa? Nós da comunidade. Muitos de nós, aliás. Nas minhas últimas contas, descobri, feliz, que já somos mais de 20 pessoas na equipe! Tem o pessoal da coordenação, os moradores que recebem os hóspedes em suas casas, as equipes da cozinha e da limpeza, os terapeutas mais do que profissionais, as famílias que vendem produtos orgânicos para compor o cardápio, o bioconstrutor que ministra minicurso para os visitantes, o casal de músicos que oferece pocket show no sábado à noite, a moradora que é expert em danças brasileiras e põe todos para sacudir o esqueleto, a naturóloga que dá dicas de uso de plantas medicinais, o casal que abre a casa para uma deliciosa noite de degustação de vinhos artesanais produzidos aqui mesmo, a maestrina que ministra oficina de canto, e muito mais.
De verdade, tem muita coisa boa nessa história. Porque todos trabalham com prazer. Todos acreditam e sabem o valor de uma vivência desse tipo para quem vive tão sem natureza, sem estrelas, sem ar puro, sem tempo para curtir uma roda de fogueira com cantoria. Por isso, quem vem para cá também ganha muito, tenho certeza.
Mais que tudo, o spa é uma onda bonita de gente que compartilha dons (coerentes com nossa visão de mundo), fortalece convicções, vai ganhando um dinheirinho e fica feliz com isso. Para quem vem e recebe isso tudo, o que fica é a certeza de que existe, sim, vida fora do asfalto. E viva a economia criativa!
Lindo! Inspirador! Muita gratidão! Obrigada! abs!
Olá, Thais,
Obrigada!
Um abraço pra você também!
Simplesmente M A R A V I L H O S O seu artigo. Fonte de inspiração. Sua visão solidária e generosa do mundo aliada a sua capacidade de transformar as idéias em ações são um grande dom. Muito sucesso para vocês!!