Eu, Rita, uma das autoras deste blog, passei o réveillon no sítio de amigos. Durante esses dias, pude observar as crianças livres, correndo pra lá e pra cá, inventando brincadeiras, fazendo acrobacias, ou então quietinhas, querendo um chameguinho, no colo dos pais que eram full time, presentes e receptivos. Posso estar romantizando um pouco, mas achei tudo muito natural.
Um dia, começou a chover muito forte. Uma das crianças cochichou no ouvido da mãe: “podemos ir brincar no pula pula?”. A mãe consentiu, com a condição de que fossem tomar um banho quente quando acabasse a brincadeira. Fiquei espiando pela janela as crianças pulando e escorregando no brinquedo, e dando altas gargalhadas. Me deixei contaminar por aquela sensação de alegria, de frescor, de expansão.
As crianças estavam o tempo todo por ali, junto dos adultos, fazendo o que tinham vontade. Quando um adulto começava a fazer alguma coisa que chamava a atenção, a criança se aproximava e participava. Pois é assim que aprendem, prestando atenção e perguntando sobre aquilo que lhes interessa. Até para comer. O que comiam era resultado de seu interesse por algum tipo de alimento, e aprendiam e faziam sozinhas ou ajudavam a preparar.
Numa certa noite, os adultos resolveram assistir a um filme, que não era apropriado para crianças. Elas aquiesceram sem drama de ficar de fora. Assim que o filme acabou, quando saí da sala, vi que elas estavam brincando do lado de fora, no escuro daquela noite nublada, com a lua cheia escondida por trás de grossas nuvens. Puxa, elas estavam curtindo ficar ali fora, sem medo do escuro, sem necessidade de se refugiar em algum canto aconchegante da casa. Estavam soltas, brincando.
Eu, Ana Carol, outra autora deste blog, passei os primeiros dias do ano em uma praia bastante tranquila. A faixa de areia curta e o mar quase sem ondas propiciaram condição especial para que as crianças brincassem ali com liberdade.
As famílias organizavam o guarda-sol e as cadeiras, de frente para o mar. Um adulto acompanhava a criança em sua brincadeira inicial, e depois voltava para ficar junto dos outros adultos. A brincadeira ocupava os primeiros metros de mar e a faixa de transição entre terra e água. Por alguns momentos, o mar era só das crianças. Há quanto tempo eu não via isso!
Observei brincadeiras surgindo, algumas com máscaras, além de muitos momentos de contemplação das ondas e a percepção de seu corpo na água. Os adultos, do lado seco da praia, observavam, e vez ou outra se aproximavam. Quando entravam na brincadeira, diziam algo assim: “Quando eu tinha a idade de vocês e brincava na praia, minha brincadeira favorita era…”. E a memória do adulto, relatada ali, trazia para as crianças uma outra maneira de brincar.
Chegando em nossas casas, depois desse período de festas e férias de fim de ano, nós – Rita e Ana Carol – conversamos e identificamos algumas semelhanças em nossos relatos: que a tranquilidade e a naturalidade com que os pais, nas duas experiências, observavam, acolhiam e interagiam com as crianças o tempo todo nos fizeram pensar que ser adulto também é natural.
Ser pai e mãe e vizinho é natural. Também pode ser natural. Para isso, a intuição passa a ter um papel maior, assim como o equilíbrio, a abertura, a atenção, a segurança e o centramento dos adultos. E a confiança, claro!
Confiança no processo natural das crianças e na própria intuição para selecionar os elementos culturais que fazem sentido a todo instante (e descartar os que não fazem, que são muitos!!!), entregando às crianças o que lhes parece ser o melhor, sem muitas regras ou imposições. Ter sua própria verificação e seus critérios em relação às normas sociais.
Naturalmente, na medida do possível, estar presente no desenvolvimento das crianças sem tolher suas potencialidades. Assim, iniciamos 2018 com o desejo de que seja um ano de muita confiança e liberdade!
Foto: Jelleke Vanooteghem/Unsplash