Eu acredito que a relação entre criança e natureza é necessária para a vida e para o desenvolvimento de ambas. Mas me enganei ao pensar que, se estivesse em um ambiente com muito verde, árvores e ar livre, isso fosse suficiente para que essa relação fosse favorável. Não levei em consideração a cultura da comunidade em que estava inserida a situação.
E para que as crianças tenham essas experiências é preciso que a comunidade inteira acredite e valorize. É necessário estar junto: na postura, nas ações, no olhar, nas sensações. Se colocar no lugar do outro, que, ao chegar a este pedaço de mundo, tem a possibilidade de descobri-lo. É ter um olhar sensível sobre cada descoberta, por mais simples que seja. E que sejam simples as descobertas!
Na primeira infância, a criança tem um mundo repleto de informações para descobrir. O que ela precisa saber? As letras do alfabeto ou precisa saber a textura da areia entre seus dedos? Nomear as cores ou conhecer as infinitas cores que estão na natureza? Saber o gosto das frutas ou o nome das formas geométricas?
A criança precisa viver! E para isso é preciso se sentir segura, ter ao lado dela um adulto que confie no seu potencial, que a deixe explorar livremente o mundo! Mas não é assim que acontece, geralmente. Em alguns ambientes destinado às crianças, o adulto que senta no chão de areia com elas é visto como anormal. Outro adulto chega e diz: “Você está sentado no chão! Vai se sujar! Quer que eu pegue uma cadeira?” Não entra na minha cabeça que você peça ao outro que se suje se você não se permite o mesmo. Faça o que eu falo, mas minhas ações são opostas? Richard Louv chama a atenção para isso no livro Last Child in the Woods – As crianças estão atentas as nossas atitudes o tempo todo!
E, então, chega o verão, o calor e a oportunidade de brincar com água. Água na areia… Lama! Uma lama que antes era contida em pequenas porções dentro de baldes no tanque de areia, agora se espalha pelo espaço. O que antes se limitava ao contato com as mãos, agora se estende pelo corpo todo! Risadas, sorrisos, novos movimentos. Água que molha, que refresca, que diverte, que modifica um ambiente, que encanta, que ensina. Um cenário lindo!
Estar numa escola e ver uma cena assim é encanto para alguns adultos, e reprovação de muitos outros. E afirmo isso com propriedade, pois muitas vezes já estive nesta situação: perceber olhares de desgosto e nojo por parte de outros adultos que observavam tudo de longe. “Olha a roupa deles!”, “Olha a sujeira!”. Caras e bocas de desaprovação que prefiro fingir não ver ou ainda dar risada porque sei que eles não sabem o que estão perdendo.
Fico tranquila enquanto a criança aproveita o momento na natureza com toda sua inteireza e presença, sem prestar atenção ao que a rodeia. Ela não recebe essa informação de “desaprovação”. No entanto, já presenciei cenas em que um adulto, ao ver uma criança toda sorridente e suja, gritou. Além de gritar, expressou sua indignação com a sujeira, com a cor da roupa… Tudo isso, na frente da criança. Como ela pode interpretar essa situação? O que ela sentiu?
Realmente as crianças precisam de muito mais banhos de mangueira, mergulhos na lama, escaladas em árvores do que os adultos imaginam ou gostariam. As crianças precisam estar mais do lado de fora, VIVENDO E EXPERIMENTADO! E, na mesma proporção, o mundo precisa de mais adultos presentes, inteiros, que se sujem, que tenham um olhar sensível, que permitam que a criança descubra o mundo, que valorizem a simplicidade de cada segundo.