Em todo o país, as crianças estão iniciando um novo ano letivo. Junto com cada criança, chega à escola um mundo novo. Um mundo único, construído de histórias, vivências, experiências, culturas, relações, espaços, expectativas. É um momento especialmente rico, em que a escola deveria ser a comunidade viva em que a criança está inserida e que vai permitir que ela viva seu mundo e o expanda por meio das trocas que fará com seus colegas e com os educadores: ampliar suas relações, ter novas experiências, conhecer novos lugares e pessoas, amadurecer no seu tempo e ritmo.
Por isso, a escola não deveria ser o local onde todos esses mundos são igualados, mas é isso o que acontece, geralmente. As singularidades são desvalorizadas, e o que se busca é a padronização.
Uma forma de driblar essa prática, é proporcionar a convivência no espaço aberto, pois ele estimula a expressão desses diferentes universos, estimula o senso de presença e do respeito à singularidade de cada um. Afinal, se temos tantos mundos reunidos num lugar só, por que restringi-los à sala de aula? Tanto não deve ser assim que, oficialmente, na Educação Infantil, este espaço aberto recebe o nome de sala de referência, ou seja, aquele lugar onde estão seus pertences, onde acontece uma acolhida. A sala já não é mais vista como um lugar de permanência.
Todos os dias milhões de possibilidades estão acontecendo lá fora e que não são percebidas quando se está entre quatro paredes. Há vida, há tempo, há encontros, há transformações.
Os adultos que pensam as ações para as crianças precisam reconhecer estes espaços a partir da percepção das crianças, com a curiosidade de quem visita um lugar pela primeira vez, com o resgate das primeiras sensações ao observar uma folha caindo, encontrar uma semente no chão. É preciso criar vínculo com este espaço a fim de que ele seja muito mais que um tempo livre das “obrigações de adulto”, mas para que seja primordial em experiências para as crianças, primordial em pesquisas do mundo externo e interno.
Ao lado da familiaridade e do vínculo com esses espaços e seus elementos componentes, crianças e adultos percebem juntos que cada dia é único, diferente, e passam a ficar mais sensíveis para perceber a riqueza da variedade de situações que o mundo vivo oferece. Cada dia do lado de fora tem muito a ensinar.
A palavra letivo vem de leitura, estudo. O que propomos é que esta leitura – ou estudo – seja entendida não só como a aprendizagem da língua e dos conteúdos selecionados para o currículo, mas, de forma expandida, que as crianças possam aprender a ler o mundo ao seu redor, sejam capazes de sentir e perceber o movimento do vento, a dança das nuvens e das folhas, as interações entre os pequenos animais e as plantas, as relações das plantas com a terra e com o clima, as relações entre as pessoas e as influências recíprocas entre pessoas e o ambiente vivo que as cerca.
O aprendizado formal é muito importante, claro, mas tão importante quanto ele é o aprendizado do mundo, que requer uma experiência direta com ele, e não abstrações formuladas pelo aprendizado de outros e em outros contextos.
Que cada nuvem, vento, árvore seja um bom motivo para se ir além da sala de aula. Que cada criança seja um bom motivo para se levar a aula para fora do ambiente fechado.
Assim, desejamos um 2018 com mais motivos e menos desculpas para estar do lado de fora!
Foto: Renata Stort
Que texto sensível, delicado, delicioso de ler! Meu filho está com 3 anos e meio e irá este ano pela primeira vez para a escola, e o desejo para ele é o que vc descreve no texto. De resto, meditar para que a minha ansiedade não tome conta, pq é um momento muito importante pra ele e pra mim ♥️