Eu sou aquele tipo de pessoa que tem dificuldade em responder questões triviais. Para perguntas como “qual o seu trabalho”, “qual a sua formação” ou até mesmo “onde você mora”, minha resposta é: “abre uma cerveja e senta aqui, porque a prosa é longa”.
Dentre essas questões, também se qualifica “qual a sua crença”. E, para essa, nem uma conversa longa ajuda, porque eu mesmo não sei direito. Já transitei desde o ateu convicto até tocador de violão em igreja. Hoje, decidi não me preocupar com isso. Se me obrigam a escolher uma religião, eu digo: Natureza! As pessoas costumam não entender muito, e isso nos deixa num nível de entendimento semelhante, pelo menos.
Mas, de fato, acredito na natureza e suas influências na minha (ou nossa?) vida. Ela tem um poder fantástico de transformação. E sua lógica própria.
Nessa minha crença de natureza, as baleias ocupam um dos lugares mais sagrados. O privilégio de ver os maiores seres vivos que habitam e já habitaram nosso planeta, sempre me emociona demais.
Há alguns anos venho acompanhando o trabalho incrível dos pesquisadores do Instituto Baleia Jubarte. E todas as vezes que me organizo para ver baleias, aflora o desejo de fazer uma boa foto de um salto. O momento magnífico em que esse bicho coloca suas até 30 toneladas para fora da água é de tirar o fôlego. E, obviamente, pode proporcionar imagens espetaculares.
Em setembro passado, lá fui eu mais uma vez para a região do Parque Nacional Marinho dos Abrolhos, ajudar o trabalho de foto identificação das Jubarte. Na bagagem, o desejo antigo da foto do salto. Mas, logo na chegada, más notícias: o tempo ruim, com muitos ventos, atrasaria o cruzeiro por pelo menos 3 dias.
Quando finalmente partimos, o dia foi de mar favorável. Muitas fotos de caudas, bocas, borrifos, dorsais, grupos, filhotes, mas nada do salto. Vi alguns distantes, o coração acelera, mas só coisa de ver, não de fotografar.
No fim do dia, aportamos próximos à Ilha Santa Bárbara, já no arquipélago dos Abrolhos. Em geral, o barco fundeia perto da Siriba, para ficar melhor abrigado do vento. Mas, nesse dia, a necessidade de desembarcar uma pesquisadora, fez com que o capitão decidisse ficar por ali.
Logo após o jantar, subi para o convés para curtir um pouco do céu estrelado. Mas, como fotógrafo disciplinado, sabia também que, em breve, a lua cheia nasceria. Eu já sabia aproximadamente de onde ela surgiria. Mas quando apareceu, exatamente ao lado do farol, o coração quase saiu pela boca.
Na minha religião de natureza, foi um daqueles momentos em que me senti muito abençoado. Se o cruzeiro não atrasasse e se estivéssemos fundeados no local usual, não viveria esse momento. Como a câmera estava junto, fiz alguns cliques, mesmo sabendo do limite que há em fotografar uma cena tão fantástica. E terminei aquela noite com uma imensa sensação de paz.
Durante os três dias de cruzeiro, nenhuma baleia me deu mole para uma foto de salto. Fiz algumas de longe, tão longe quanto o resultado que eu ainda espero obter. Não considerei isso uma desfeita das gorduchas. Interpretei como uma maneira que elas acharam para me fazer voltar (como se precisasse!).
E já acostumei com esse comportamento da mãe natureza: ela nem sempre dá o que você quer. Mas, se estiver em sintonia, ela sempre dá o que você precisa.
Agora, os dados técnicos da foto:
– Câmera Nikon D750
– Objetiva Nikon AFS 80-400 f/4.5-5.6G VR II @ 290mm
– Exposição: ISO 12.800, Abertura f/5.6, Velocidade 1/15s.
Então, Mestre, quando virás pra Reserva Rio das Furnas pra uma prosa da boa? Cá estamos te esperando… Abração!
Pô, meu amigo! Vontade tem de sobra. Mas a vida está agitada demais nesse fim de ano! Mas tá na lista das prioridades, mermão! Abraço e me aguarde!
A foto que postou me levou para outro planeta…uma vontade imensa de estar no lugar, naquele exato momento, apenas contemplando. E a sua frase finalizando a postagem resume o que eu penso da vida. Parabéns por ter tanta luz dentro de você!
Foi na varanda da minha casa, esperando seu “Red Ball Lifer”, que você me falou pela primeira vez disso, Silvia: paciência de esperar e alegria pelo que se recebe! Você encara as coisas da mesma forma, minha amiga!
Derreti… (modo manteiga puro)
Verdade verdadeira: a gente sempre recebe o que precisa! Linda foto e relato…acho que eu estava em BH qdo vc tirou essa! Beijo querido.