Sempre quis ver um urso. Mas não com aquela gana normal de quem trabalha com fotografia de vida silvestre. Minha vontade sempre esteve associada a um olhar muito mais contemplativo que tenho pela natureza do que o desejo de registrar esse animal.
Aliás, me tornei fotógrafo, a princípio, muito por conta da minha trajetória de viajante, de naturalista que observa compulsivamente o ambiente onde vive e tira dali suas interpretações. Além disso, o hábito solitário de alguns animais sempre me atraiu, notadamente dos ursos (pelo menos era o que eu via em documentários). E, depois de tanto fotografar onças-pintadas, lobos-guará e sussuaranas, animais estritamente solitários, resolvi incluir a região de Smoky Mountains, no Tennessee, em minha programação norte-americana apenas para procurar um urso preto.
Após vários dias andando de carro pelas inúmeras estradas que cortam Cades – quando já tinha visto veados, marmotas, esquilos e perus selvagens -, resolvi fazer minha “última rodada” pela área antes de seguir para Cataloochee, onde tentaria encontrar uapitis, espécie de cervos encontrados na Ásia e na América do Norte.
Num certo momento, encontrei um grupo de carros (já tinham me dito que, se há muitos carros parados, há ursos por perto!) e dois turistas no campo lateral à estrada. Saí caminhando e pude ver, bem de longe, uma corcova preta entre o capim alto. Mal podia acreditar e aquela cena não durou mais do que cinco minutos até o animal desaparecer num pequeno vale.
Os turistas foram embora e fiquei sozinho ali, desejando que o bicho desse o ar da graça novamente. Meu raciocínio era simples: tendo um campo depois daquele vale, o urso haveria de aparecer novamente!
Fazia uma busca visual ao redor (vai saber se tinha algum outro por ali) quando, de repente, lá estava ele, me olhando! Pude aproveitar que ‘havia um vale entre nós’ e me aproximei consideravelmente. O urso permaneceu tranquilo entre o capim, de vez em quando olhando na minha direção, até o momento em que ficou de pé e puxou um galho! Não me aguentei e comecei a fotografar.
De repente e, quando já me dava por satisfeito com aquela cena, ele começou a subir na árvore, com uma desenvoltura no equilíbrio que não ornava com seu tamanho! A satisfação era plena, assim como a constatação de que, em se tratando de vida selvagem, o feeling é sempre um grande aliado.