O domínio da técnica e um olhar apurado são apenas parte das características que, para mim, definem o bom fotógrafo. Nos meus cursos e oficinas, gosto de reforçar a importância de o fotógrafo ser uma pessoa legal, simpática, atenciosa. Quando falamos especificamente da fotografia de natureza, respeitar o ambiente natural onde se está fotografando e as comunidades nele inseridas é fundamental. Este é o tema da história de hoje.
Há alguns anos, organizei e liderei uma expedição na Amazônia com objetivo de fotografar botos-cor-de-rosa para Amos Nachoum, consagrado fotógrafo subaquático israelense radicado nos EUA. Visitamos comunidades ribeirinhas onde as crianças cresceram habituadas a observar os botos indo e vindo pelos rios, em frente a suas moradias. Em alguns casos, os animais eram atraídos com peixes e as crianças nadavam lado a lado com eles. Porém, devido à turbidez natural da água na região e mergulhando a olho nu, enxergá-los dentro do rio era tarefa impossível.
Quando chegávamos nas localidades, com aquela parafernália de equipamentos – câmeras, lentes, caixas-estanque, máscaras – virávamos a sensação da garotada. Por alguns momentos, paradoxalmente, os visitantes se tornavam a principal atração turística do lugar. E logo se estabeleceu uma relação que exemplifica muito bem a visão que comentei no começo deste texto.
Durante os intervalos entre mergulhos, Amos e seu colega John reuniam as crianças para mostrar, no visor de suas câmeras, as fotos dos botos. O brilho em seus olhos estampava o fascínio de quem passava a vida ao lado destes animais, mas nunca havia os visto de forma tão nítida e bela. E quando a situação parecia ter atingido seu auge, um dia os fotógrafos decidiram emprestar suas máscaras de mergulho para a garotada brincar no rio, enquanto almoçávamos. Foi um êxtase.
Amos mostra as fotos que acaba de fazer para as crianças ribeirinhas
O clima de harmonia perdurou pelos próximos dias, até que chegou o momento de irmos embora. Demonstrando sua gratidão e sensibilidade, antes de partirmos, Amos e John deixaram as máscaras como presente para as crianças. Certamente eles serão lembrados por muito tempo naquela comunidade, por terem propiciado uma experiência tão especial.
Além de ter criado uma atmosfera que os ajudou a desenvolver seu trabalho de maneira mais agradável, esta atitude singela deixou uma imagem positiva para os fotógrafos de natureza em geral. Tenho convicção de que os profissionais que visitaram o local depois de nós também foram muito bem recebidos, em parte devido a este detalhe tão simples e tão importante.