Gosto do sertão. Cada investida pela Caatinga e pela alma sertaneja, é como um “tapa com luva de pelica” em nossos padrões e no individualismo urbanos. Andar pelo chão ressequido do sertão é um caminho de mão única, rumo a uma reconstrução de valores e conceitos até então aparentemente sólidos.
Pois basta o olhar puro de uma criança, o sorriso ingênuo de outra, o carinho desapegado dos que te recebem, para tudo que é sólido desmoronar.
E você se vê sem tempo para desfrutar tanta felicidade, tanta paz de espírito, tanto envolvimento nos gestos simples daquelas pessoas; que cedem a cama pra visita, matam a maior galinha para comemorar a visita, andam léguas para comprar café no mercado, pra visita.
E você, sem se dar conta do tempo, nem percebe que já voltaram e passaram um café no coador de pano, na chaleira empretejada pelo fogão à lenha, pra visita.
E você, sem perceber que não existe o tempo, pára de perceber a parede de taipa, a colcha puída, a xícara trincada, e sente que aquelas pessoas não te vêem como visita – afinal, você é uma pessoa! E cuidar da pessoa, não importa quem seja, é tudo que o sertanejo faz.
“A água é pouca, a terra é árida, o sol é quente, a rotina é doída. Então, minha vida é cuidar do outro!”
E você, nesse momento, se torna cúmplice do tempo, começa a perceber que a vida é para ser vivida, e não visitada…