A Florida Fish and Wildlife Conservation Commission (FWC) divulgou há poucos dias uma estimativa das mortes de peixes-bois nos últimos doze anos: aproximadamente 7.444 mil. O número é praticamente o mesmo daqueles que ainda restam vivos na natureza: pouco mais de 7,5 mil.
Além das colisões com embarcações, a falta de alimentos é apontada por especialistas como a principal responsável pela enorme mortandade na última década. A maioria dos peixes-bois está morrendo de fome. No segundo semestre do ano passado, centenas de carcaças foram encontradas ao longo da costa do estado americano e outros, muito magros, foram avistados.
Chegando a pesar até 600 kg, esse animal é herbívoro e se alimenta da vegetação encontrada no fundo do mar. Todavia, a poluição da água e a proliferação em massa de uma alga vermelha tóxica na Flórida têm matado essa espécie de grama marinha.
Em 2021, as autoridades locais registraram a morte de mais de 1 mil peixes-bois. Foi um triste recorde. Em 2010 tinha sido a primeira vez que um número tão grande de óbito havia sido documentado, 766. Desde então, ano a ano, a média é de 500 mortes.
“O verdadeiro impacto na população de peixes-boi é provavelmente ainda maior do que o chocante número de mortos que estamos vendo”, alerta Elise Pautler Bennett, diretora do Centro para Diversidade Biológica, em entrevista ao site Phys.org. “Para cada morte registrada, há um número desconhecido de peixes-boi doentes ou que morreram e simplesmente não foram encontrados. Isso inclui fêmeas em idade reprodutiva que morreram ou tiveram capacidade reprodutiva reduzida e também peixes-boi órfãos”.
No começo de 2022, foi montada uma operação de emergência, e temporária, para evitar que mais animais perdessem a vida, como contei nesta outra reportagem. Equipes da FWC alimentaram os peixes-bois com duas variedades diferentes de alface. Foram ofertadas 9 toneladas por semana, mais de 1 mil kg por dia. As folhas possuem nutrientes e carboidratos necessários para a dieta dos animais (leia mais aqui).
O estuário da Indian River Lagoon, na Flórida, é o habitat de 1/3 dos peixes-bois dos Estados Unidos, que em algum momento vivem ali. O local teve uma perda de quase 60% de sua vegetação na última década e apresenta uma enorme quantidade de micropartículas de plástico em suas águas. Mas existe uma ponta de esperança. Há indícios que houve uma ligeira recuperação da grama marinha ali nos últimos meses. Um dos motivos seria a diminuição da presença das algas tóxicas, já que nesse verão a água na região estava bem mais clara e limpa.
Existem quatro espécies de peixe-boi no mundo, e uma delas vive apenas em água doce, no Brasil, mais especificamente na Amazônia. O da Flórida, chamado de manati, em inglês, é o Trichechus manatus latirostris.
Extremamente dócil, o peixe-boi nada vagarosamente, o que o torna suscetível a colisões
com embarcações no agitado verão da Flórida
(Foto: domínio público/pixabay)
*Com informações do site Phys.org
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Foto de abertura: NOAA/unsplash