A indicação de Marisa Monte ao título de Doutora Honoris Causa da Universidade de São Paulo (USP) foi apresentada pela professora Carlota Botto, diretora da Faculdade de Educação (FE) – com apoio de Eloisa Bonfá, diretora da Faculdade de Medicina da USP, e da cardiologista Ludhmila Abrahão Hajjar, professora titular da mesma instituição. A justificativa se baseou na “qualidade de seu trabalho artístico”, em “sua atuação como defensora das artes, da democracia e da educação” e, também, devido a “seu envolvimento com comunidades”: ela apoia crianças da escola mirim da Portela e artesãs na comunidade de Curral Grande, no Ceará.
E foi aceita pelo Conselho da Universidade de São Paulo por unanimidade, em dezembro de 2023.
E finalmente chegou o dia da cerimônia de entrega do título, que aconteceu ontem (24) no auditório do Centro de Difusão Internacional, à tarde.
No domingo (23), a cantora e compositora lotou a Praça do Relógio, nas dependências da USP, com um show lindo e gratuito – que celebrou os 90 anos da instituição –, acompanhada pela Orquestra Sinfônica da USP (OSUSP), com participação do cantor e amigo Arnaldo Antunes.
“Minha voz ecoa além dos palcos e da música”
“Em 90 anos de existência, a USP outorgou 123 títulos de doutor honoris causa. Sou a terceira mulher e a primeira da área de cultura”, declarou a cantora e compositora no início do discurso de reconhecimento. Antes dela, foram nomeadas Eveline Du Bois Reymond Marcus, zoóloga alemã radicada no Brasil, e a farmacêutica Maria da Penha Maia Fernandes, que deu nome à lei que combate a violência contra a mulher.
“Eu sempre tive uma visão patrimonial da minha obra. Fundei meu próprio selo e minha própria editora musical desde cedo. Tornei-me referência em gestão e liberdade artística. Hoje, reconheço que a minha voz ecoa além dos palcos e da música. E eu tenho o dever de zelar pelo patrimônio intelectual e cultural do meu país”, acrescentou.
“A revolução tecnológica dos últimos tempos impôs enormes desafios à defesa dos direitos autorais e à proteção dos criadores perante a ganância das grandes corporações globais de tecnologia, que cresceram muito e rapidamente no vácuo de regulamentação”.
E continuou: “Tenho trabalhado incessante e intensamente na interlocução com as instituições brasileiras, junto com artistas e ativistas da Associação Procure Saber, que reúne alguns dos maiores artistas brasileiros, aqui representada pela presidente da associação, minha amiga Paula Lavigne”. Assista ao discurso, na íntegra, no final deste post.
‘Marisa Ponte’
Marisa Monte é embaixadora do Programa USP Diversa – o primeiro subfundo do Fundo Patrimonial da USP, lançado em 2021, com cerca de R$ 26 milhões – que capta recursos e financiamento para bolsas de permanência estudantil para alunos em situação de vulnerabilidade socioeconômica.
Ela ainda participa da implementação do Endowment USP Diversa, que vai captar recursos para alunos do programa de cotas da USP. Segundo a artista, a ideia é organizar arrecadações para a criação “de um fundo perpétuo que ajude cotistas a permanecerem na universidade”.
Além disso, em julho do ano passado, inaugurou o Espaço Imaginário Marisa Monte no Instituto do Coração (Incor) do Hospital das Clínicas, em São Paulo, que oferece conforto emocional durante os períodos de internação, não só aos pacientes, mas a seus acompanhantes também, por meio da doação de instrumentos musicais, livros e outros materiais.
Idealizado em parceria com a cardiologista Ludhmila Abrahão Hajjar, o espaço tem biblioteca com cerca de três mil itens, instrumentos e ateliês de atividades manuais, que incentivam a produção artística.
“Eu brinco que sou a ‘Marisa Ponte’”, referindo-se à tarefa que se impôs de “juntar pessoas em torno de valores e causas”, contou a artista à Folha de SP, na ocasião.
Agora, assista ao discurso emocionante da artista, na cerimônia de entrega do título:
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Com informações da USP e G1
Foto (destaque): reprodução do vídeo
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