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Davi Kopenawa, xamã e principal líder Yanomami, recebe título de ‘Doutor Honoris Causa’ concedido pela Universidade Federal de Roraima

Davi Kopenawa, xamã e principal líder Yanomami, recebe título de 'Doutor Honoris Causa' concedido pela Universidade Federal de Roraima

Desde o ano passado, universidades têm reconhecido a importância de lideranças indígenas para a defesa de seus direitos, do meio ambiente e da cultura do país.

A Universidade de Brasília (UnB) foi a pioneira. Em dezembro de 2021, anunciou a aprovação da concessão do título de Doutor Honoris Causa ao líder e pensador indígena Ailton Krenak, em votação unânime e virtual. Ele recebeu a honraria em cerimônia presencial e comovente em 12 de maio, transmitida ao vivo (como contei aqui).

Um dia antes desse encontro, foi a vez do conselho conselho da Universidade Federal de São Paulo (Consu/Unifesp) comunicar que, por aclamação, o xamã e principal líder dos Yanomami, Davi Kopenawa, foi escolhido para receber o mesmo título. Com um detalhe: este é primeiro diploma de Doutor Honoris Causa concedido pela instituição. A cerimônia para a entrega ainda não foi marcada.

Em 6 de agosto, a Universidade Federal de Roraima (UFRR) contou, em seu site, que recebeu a aprovação do Conselho Universitário sobre a indicação do nome do líder Yanomami para ser agraciado com o título de Doutor Honoris Causa, “a máxima distinção acadêmica concedida pela instituição” (veja aqui a decisão).

A justificativa enaltece sua “liderança e contribuição na luta pelos direitos indígenas, reconhecidas tanto nacional como internacionalmente”.

Dalai Lama da Floresta

Defensor aguerrido da Amazônia, dos povos originários, do meio ambiente, da diversidade cultural e dos direitos humanos, Kopenawa é também presidente da Hutukara Associação Yanomami, palestrante internacional e membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC), desde dezembro de 2020 (como contamos aqui).

Em 1989, recebeu o Prêmio Global 500 criado em 1987 pela Organização das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), que também reconheceu Chico Mendes. Trinta anos depois, em 2019, foi agraciado com o prêmio Right Livelihood Award, da fundação que lhe dá nome, conhecido também como ‘Nobel Alternativo’ (como contamos aqui).

Com o antropólogo Bruce Albert, escreveu o livro A Queda do Céu – Palavras de um Xamã Yanomami, bastante celebrado pela comunidade antropológica internacional. Publicado originalmente em francês em 2011, foi traduzido para o português, inglês e italiano.

No filme A Última Floresta, de Luiz Bolognesi, lançado em 2021, Kopenawa participou como um dos personagens da história (foto acima), mas também como coautor do roteiro, que dividiu com o diretor (contamos aqui e aqui)

A obra conta a história do povo Yanomami, sua cultura e identidade, e o perigo das ameaças constantes dos invasores, mas a situação não estava como hoje (falo mais sobre isto no final deste post). Participou de diversos festivais nacionais e internacionais e conquistou nove prêmios.

Medo de morrer 

De acordo com a organização Survival Internacional, Davi Kopenawa era chamado de “Dalai Lama da Floresta por seu trabalho incansável para proteger a terra de seu povo na Amazônia”.

Graças a ele, depois de quase dez anos de luta, em 1992, os Yanomami conquistaram o reconhecimento oficial de seu território, que é a maior área indígena coberta por floresta do mundo. O indigenista Sydney Possuelo, então presidente da Funai, contribuiu com esse processo.

Assim, em maio, a TI Yanomami completou 30 anos de homologação, mas temos visto que, mesmo com a demarcação e a homologação realizadas de acordo com a lei, nada impede que criminosos a invadam e a devastem em busca de ouro

Em entrevista ao jornal O Globo, em abril deste ano, o xamã e líder indígena declarou que tem “medo de morrer de bala” e que estima que a Terra Indígena Yanomami já esteja ocupada por 100 mil garimpeiros. 

“Em 2022, há muita gente envolvida como autoridades e grandes empresários (como o “caçador de jazidas”). As autoridades brasileiras não estão preocupadas com a gente. Nem Funai e nem governo. Pelo contrário, (eles) querem tirar o ouro da terra Yanomami”, destacou na referida entrevista.

Foi a primeira ver que ele falou em ter medo. E, com medo, como pode fortalecer os Yanomami para o combate às invasões e garantir segurança?

Foto: Victor Moroyama para o ISA (Instituto Socioambiental)

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