Na semana passada, a revista americana TIME lançou a lista TIME 100 Climate, que elege as 100 lideranças climáticas mais influentes do mundo em 2023, com base na ciência e priorizando cinco áreas: energia, natureza, finanças, cultura e saúde.
A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva está entre os três brasileiros escolhidos para inaugurar este reconhecimento e, de acordo com a publicação, a escolha se deve à sua atuação exemplar frente ao Ministério do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas (MMA), em especial ao combate do desmatamento na Amazônia.
A divulgação aconteceu após a notícia de que o desmatamento nesse bioma caiu 20% em relação ao ano passado, marcando o menor nível em cinco anos, e duas semanas antes da COP28, a Conferência Internacional sobre Mudanças Climáticas da ONU, que será realizada em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, de 30 de novembro a 12 de dezembro.
O fotógrafo Sebastião Salgado – que dirige o Instituto Terra junto com Lélia Salgado, sua companheira – e o geólogo Marcelo de Oliveira, responsável pela criação do cimento com carbono negativo na empresa Brimstone, também são homenageados.
Entre os estrangeiros, estão a banda britânica ColdPlay, a cantora americana Billie Elish, Secretário de Estado dos Estados Unidos (para o Clima), John Kerry, a primeira-ministra de Barbados, Mia Mottley, o fundador da Microsoft, Bill Gates, e sua ex-esposa Melinda Frenc, a estilista britânica Stella McCartney e o arquiteto africano Francis Kéré.
Marina Silva
“[Ela] é Ministra do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas do Brasil. Nesta função, ela está trabalhando para construir resiliência climática e limitar o desmatamento”, descreveu a TIME, que ainda destacou “a queda de 22,3% no desmatamento na Amazônia de agosto de 2022 a julho de 2023 em relação ao período anterior”.
De acordo com o Sistema Prodes, do Inpe – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, a taxa oficial de desmatamento no bioma foi de 9.001 km², a menor desde 2019, o primeiro ano de Bolsonaro na presidência.
A seguir, veja o que Marina declarou em mini-entrevista para o TIME 100 Climate:
– Qual é a ação mais importante que você acha que o público, ou empresa ou governo específico, precisa realizar no próximo ano para fazer avançar a agenda climática?
A coisa mais crucial que todos precisamos fazer, com urgência, é quebrar o ciclo vicioso de acreditar que a realidade já está sendo mudada por nós, pelo governo e pelas sociedades, simplesmente porque chegamos a um acordo sobre algo, como escreveu Mia Couto no seu belo ensaio Os Sete Sapatos Sujos.
Temos um raro consenso científico sobre o que se passa, temos a informação, conhecemos os custos da inação, sabemos o que queremos evitar, sabemos o que precisamos fazer e, claro, temos o dinheiro para implementar o necessário esforço de transição.
Ano após ano, enfrentamos cada vez mais as consequências da inação nas alterações climáticas.
As pessoas e os países vulneráveis são os mais afetados, mas os governos e as empresas não conseguem reunir os recursos suficientes para fazer avançar a agenda climática devido à sua falta de ambição e, mais importante, à falta de compromisso.
Já temos uma parte significativa das respostas técnicas necessárias para implementar a transformação ecológica de que o mundo tanto necessita.
O que nos falta é o compromisso ético de utilizar recursos tecnológicos, humanos e financeiros para aumentar as nossas probabilidades contra as terríveis consequências das mudanças climáticas.
– Que esforço de sustentabilidade você espera que ganhe popularidade junto ao público em geral este ano e por quê?
A sequência impressionante de impactos climáticos sem precedentes em 2023 mostrou que os esforços de adaptação são mais do que nunca uma prioridade. É uma conversa difícil, porque a adaptação é, por definição, local e exige muito dinheiro, mas perder vidas não é uma opção e a responsabilidade que partilhamos é global.
Um fundo para perdas e danos, alinhado com a responsabilidade das nações ricas e a solidariedade para com as populações vulneráveis nos países em desenvolvimento, deve ser criado e posto em funcionamento imediatamente na escala necessária para resolver o problema.
É lamentável que tenhamos perdido um tempo precioso para a ação climática nas últimas duas décadas porque o lobby dos combustíveis fósseis trabalhou para bloquear o progresso tão necessário. A conta agora é muito mais alta e será impossível pagar se demorarmos mais.
– Qual é a legislação climática mais importante que poderá ser aprovada no próximo ano?
É difícil mencionar uma única legislação importante sobre as alterações climáticas, mas todos os países precisam de sociedades e governos conscientes e corajosos para pressionarem por legislaçõesconsonantes com os novos desafios decorrentes da emergência climática.
Além disso, não se trata apenas da legislação de que necessitamos, mas também da legislação de que não necessitamos. Em muitos países, incluindo o Brasil, enfrentamos agora a ameaça de sérios retrocessos na legislação que, se aprovada, representará sérios riscos para a luta contra as mudanças climáticas.
Tanto quanto a sustentabilidade ambiental, precisamos de sustentabilidade política, e isso inclui o fortalecimento das democracias e a capacitação dos cidadãos para votarem e escolherem o que é melhor para eles, incluindo uma nova legislação sobre as mudanças climáticas.
Sebastião Salgado
O fotógrafo brasileiro foi homenageado por seu trabalho como fundador do Instituto Terra, lançado inicialmente na fazenda de gado de seus pais, em Minas Gerais, que tem como missão recuperar a Mata Atlântica.
Salgado usou suas fotografias para arrecadar fundos para um viveiro de mudas, laboratório e centro de treinamento, o que permitiu ao projeto, em 25 anos de existência, plantar três milhões de árvores – cerca de 300 espécies diferentes de nativas -, numa área de 700 hectares, além de restaurar duas mil nascentes naturais, formando uma floresta nos arredores do município de Aimorés.
Ele também foi lembrado graças ao programa Empresa Amiga, lançado entre 2022 e 2023, que arrecada fundos de corporações para restaurar a vegetação e bacias hídricas no bioma.
“Só há uma única forma de progredir com a agenda do clima no mundo em nível pessoal, corporativo ou estatal, que é plantar árvores”, acredita o fotógrafo, que acrescentou em entrevista à TIME:
“Ao plantar árvores, resolveremos o problema planetário do carbono e, mais importante, reabilitamos a biodiversidade local”.
Marcelo de Oliveira
Vice-presidente de ciência de materiais e geologia de Brimstone, Marcelo tem 20 anos de experiência em ciências da terra e “foi peça fundamental para a criação do cimento com carbono negativo da empresa, que este ano se tornou o primeiro material do tipo a receber certificação de terceiros” declarou a TIME.
“A produção de cimento emite quase tantos gases com efeito de estufa como todos os automóveis do mundo juntos. No entanto, os esforços para descarbonizar o cimento recebem apenas uma parte do financiamento e da atenção recebida por outros desafios climáticos, como os transportes e a energia”, explica Oliveira.
“As empresas que trabalham para eliminar as emissões nocivas do cimento precisam de atenção adicional, de mais recursos financeiros e de talento para nos ajudarem a mudar o mundo. Nosso recurso mais valioso para resolver este problema são as pessoas; precisamos urgentemente de mais pessoas dedicadas a enfrentá-lo”, finaliza a publicação.
Foto (destaque): divulgação