Simplesmente não há mais como aceitar o absurdo desperdício de alimentos que acontece no mundo. Há anos que nós (jornalistas e milhares de outros especialistas) alertamos que 1/3 da comida produzida no planeta é jogada no lixo. E esta estatística não muda. Mas há boas notícias a caminho.
Nos últimos anos, existe um movimento crescente de combate ao desperdício, com iniciativas (tanto governamentais como de indivíduos ou organizações) pipocando em diversos países, como já mostramos aqui no Conexão Planeta. Em dezembro do ano passado,por exemplo, a França aprovou uma lei que obrigou mercados a doar alimentos que não fossem vendidos; na Espanha vários projetos locais fazem uso dos chamados “alimentos feios”; na Dinarmaca, o WeFood só vende produtos fora do prazo de validade (mais ainda perfeitamente bons para o consumo) e na Inglaterra, um aplicativo estimula a doação de alimentos, conectando supermercado a quem precisa.
Agora, a última novidade vem da Itália, que decidiu estimular os restaurantes – e os consumidores – a usar quentinhas para levar para casa as sobras das refeições. Em muitos lugares, e o Brasil é um deles, existe uma noção cultural de que pedir pelo que sobrou é vergonhoso (ou mico, para usar um termo mais moderno). Pura bobagem! Se o cliente pagou pelo prato porque ele não tem direito de levar o que sobrou para comer mais tarde?
Desde a realização da Expo 2015, em Milão, no ano passado, em que segurança alimentar foi um dos temas discutidos, os italianos estão cada vez mais cientes da necessidade de reduzir o desperdício. Em agosto, uma nova lei foi aprovada facilitando a doação de alimentos por empresas e produtores no país. O objetivo é que a Itália deixe de jogar no lixo 1 milhão de toneladas de alimentos por ano.
O que os políticos italianos fizeram foi flexibilizar as normas para as doações de comida. A lei esclarece que produtos fora do prazo de validade ou com problemas na embalagem ou rótulo podem ser oferecidos gratuitamente e agricultores não precisam pagar nenhum imposto extra ao darem alimentos para instituições de caridade.
Para mudar a mentalidade das pessoas e estimulá-las a pedir a quentinha nos restaurantes, a empresa municipal Milano Ristorazione, por exemplo, que serve 80 mil refeições em escolas, hospitais e casas de idosos lançou a campanha “Io non spreco” (Eu não desperdiço, em italiano) e distribuiu sacolas (reutilizáveis) para que os estudantes levassem para casa as sobras do colégio de pães e frutas da hora do almoço.
Massimo Bottura é um dos italianos mais engajados em acabar com o desperdício. O chef renomado fundou o projeto Food for Soul, em que restaurantes utilizam ingredientes doados para preparar refeições para pessoas necessitadas. O primeiro deles foi o Reffetorio Ambrosiano, num bairro pobre de Milão, e depois surgiu o Reffetorio Gastromotiva, no Rio de Janeiro, inaugurado durante os Jogos Olímpicos, uma parceria com o chef brasileiro David Hertz (leia mais sobre este último neste outro post).
Ideias e iniciativas não faltam! O que se faz preciso, entretanto, é que ganhem escala e sejam o usual, e não a exceção. Sobre as quentinhas, vamos lá restaurantes e consumidores brasileiros?
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